quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A visita apressada aos lugares sagrados na Terra Santa


 Israel recebe mais de 3,5 milhões de peregrinos todos os anos. Comparando com o Rio de Janeiro, que recebe 2 milhões de turistas por ano, vemos como o turismo é importante para a economia desse país.
Igreja do Monte das Bem-Aventuranças, Galileia

Normalmente o peregrino vem a Israel em uma excursão por uma semana já tendo visitado outros países antes, em geral Itália, Turquia ou Egito e aqui, deseja visitar os lugares santos. Como são inúmeros, é impossível visitar todos, então os organizadores das excursões selecionam os locais considerados principais e proporcionam uma visita rápida a cada um deles. Acompanhei uma dessas excursões de brasileiros que queriam fotografar tudo e pouco escutavam as palavras do guia, que explicava brevemente e já os chamava em direção ao próximo local.
A Domo Rocha, muçulmana

Três são os lugares preferidos: em Jerusalém, é o Santo Sepulcro, onde Jesus morreu e ressuscitou, incluindo o Monte Calvário; em Belém é a Igreja da Natividade, onde Jesus nasceu e em Nazaré, a Igreja da Anunciação, onde  para  Maria foi anunciado que ela seria a mãe do Messias .
Nazaré onde Jesus viveu 30 anos

Para quem dispõe de mais tempo, existem muitos outros locais interessantíssimos para visitar.
Em Jerusalém, o peregrino pode visitar ainda a Igreja da Flagelação, o Litóstroto onde Jesus foi flagelado, a Via Dolorosa, o Cenáculo da Última Ceia, a Igreja da Dormição de Maria, a Igreja Santa Ana onde está a Piscina de Betsaida em que Jesus curou um paralítico, a Piscina de Siloé entre outros.
Também é possível ir ao Muro das Lamentações dos judeus, ao Domo da Rocha dos muçulmanos, ao túmulo do Rei David, aos túneis, etc.
Fora dos muros fica o Monte das Oliveiras, onde Jesus foi preso. Ali ergue-se a bonita Igreja da Agonia. Ao lado da igreja, o Getsemani com oliveiras de mais de 1000 anos que ainda produzem. Pode-se ainda visitar a Igreja de Maria Madalena, a Igreja Dominus Flevit onde Jesus chorou por Jerusalém, a Igreja Pater Noster, onde Jesus ensinou o Pai Nosso. Ali está em mosaico o Pai-Nosso em português, com a oração toda errada, parecendo mais espanhol. Uma aberração. Tem ainda a Igreja da Ascensão de Jesus no Monte das Oliveiras, a então Betfagé e a Vila Betânia, onde vivia Lázaro, o amigo de Jesus.
Igreja Santo Sepulcro, Jerusalém
 
O peregrino pode ainda percorrer a Galileia, onde Jesus viveu e pregou ao redor do Lago Genezaré. Ele terá então que visitar Magdala, terra de Maria Madalena, Monte das Bem-Aventuranças, Cafarnaum, Corazim, Monte Tabor, Nazaré, Caná, Naim, Monte Carmelo, etc. etc.
O Pai -Nosso com erros de português

Assim, é humanamente impossível visitar tudo em uma semana. São muitas as cidades e locais como: o lugar do batismo de Jesus no Rio Jordão, o Poço de Jacó na Samaria, Hebron, Banias, Betsaida e outros que ficam de fora do roteiro da maioria das excursões.
Entrada baixa da Basílica em Belém

O importante é que o peregrino sai emocionado com o que viu e sua fé desperta neste chamado Quinto Evangelho que é a Terra Santa.

Com esta matéria, encerro as observações de Israel. Amanhã, sexta-feira, partirei para o Brasil. Obrigado pelo interesse. Espero ter colaborado para aumentar nossa visão destes lugares sagrados para cristãos, muçulmanos e judeus. Até breve.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Poço de Jacó em meio aos palestinos pobres



 Hoje escrevo uma matéria especial, ao mesmo tempo sentimental e saudosa. Vou contar a história: há cerca de 40 anos atrás, em Porto Alegre, dez casais, pertencentes ao Movimento de Casais Jovens, resolveram criar um grupo com o objetivo de ir até o Poço de Jacó, em Israel. Em outras palavras realizar uma viagem à Terra Santa. O grupo chamava-se Parceiros do Poço de Jacó. (PPJ). Mensalmente fazíamos um churrasco na casa de um dos participantes e cada casal depositava 50 dólares para a viagem. Passados alguns anos, já possuíamos uma quantidade grande de dinheiro para este objetivo. Alguns, no entanto, precisaram mudar os planos - os filhos foram chegando, o sonho da casa própria começou a concretizar-se, algumas doenças comuns nas famílias e alguns problemas financeiros. Foi o adeus ao sonho do Poço de Jacó. Cada um recolheu os dólares que possuía e os aplicou no que era prioritário. O grupo continuou confraternizando com os churrascos, de vez em quando. Foi uma frustração, mas, valeu porque a amizade construída nesta época é um tesouro que ainda possuímos.
O ´poço com 23 metros de profundidade

Hoje, passados 40 anos, estando em Israel, resolvi concretizar o sonho do PPJ e fui visitar o Poço de Jacó. Foi uma viagem difícil porque o local é território palestino e a nossa Van foi barrada na fronteira de Israel com a Palestina. Não sabemos o porquê. Demos volta e quando estávamos passando a aduana, os soldados se compadeceram e permitiram a nossa entrada.
A água é potável

Chegamos a um mundo totalmente diferente de Israel.
A Palestina é constituída por dois territórios separados: o território de Gaza e a Palestina encravada em Israel, junto à antiga Samaria, em meio aos montes desérticos. A área Palestina é a chamada “carne de garrão”, das piores em possibilidades agrícolas, pois é quase impossível produzir, a não ser em pequenas áreas, em terraços de pedra calcárea junto aos montes. As estradas estão em péssimas condições. A sujeira está em toda parte. Vimos um povo pobre vivendo de “bicos”, com poucas oportunidades de trabalho. Os palestinos são dependentes dos israelenses em quase tudo, pois a água e a energia são fornecidas por Israel. Não há uma solução, a curto prazo, para os problemas entre israelenses e palestinos. Como será possível criar um país independente, encravado em Israel e separado em duas áreas, uma longe da outra?
Provei da água

Na Palestina está a cidade árabe de Nablus, em meio aos montes Garizim e Ebal, a 80 km de Jerusalém. Ali, num mosteiro Greco-Ortodoxo, está o famoso Poço de Jacó. Tem esse nome porque foi o personagem bíblico Jacó que, há 3.500 anos, comprou a terra, fez o poço e o deu de presente para o filho José. O Poço tem hoje 23 metros de profundidade. No passado tinha 32 metros, mas foi diminuindo no decorrer dos séculos. A água é potável e todos podem beber num caneco de alumínio. Os peregrinos se empurram para bater fotos. Fica na cripta da igreja. O monte Garizim possuía um templo, onde os samaritanos (inimigos dos judeus) adoravam o seu Deus.
O poço tem mais de 3500 anos


Foi com emoção e saudade dos amigos que tomei um pouco daquela água que serviu de inspiração para a formação do grupo que até hoje cultiva esta amizade em 40 anos de convivência. Senti que eu, diante do Poço de Jacó, representava a todos e em nome deles cumpria nossa promessa de juventude.

As montanhas da Palestina

Estradas péssimas


Jerusalém, com sua história milenar, é a cidade dos mil contrastes


É muito confuso escrever sobre a cidade de Jerusalém porque sua história é tão rica que dificilmente abarcaríamos sua totalidade. Foi fundada pelo rei David há três mil anos e desde então foi palco de inúmeras guerras. Segundo os especialistas, Jerusalém foi sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes, recapturada 44 vezes e destruída duas vezes. A última vez foi no ano 70 dC, pelos romanos que arrasaram a cidade, destruindo e queimando tudo.
Uma das ruas estreitas de Jerusalém velha

Como eu poderia descrever tão rica história em poucas linhas? Impossível! Por isso, relato apenas impressões deste peregrino que visitou a cidade por cinco vezes.
Jerusalém, é dividida em duas. A antiga dentro dos muros construídos em 1538 pelo sultão otomano Solimão e a nova, situada ao redor da cidade velha, que se mostra pujante, moderna, com largas avenidas, metrô de superfície, túneis, viadutos, praças, museus e imensos edifícios que abrigam em torno de 800 mil habitantes. Não foi fácil construir a cidade nova, pois Jerusalém fica situada nas montanhas, a cerca de 800 metros acima do nível do mar. As montanhas ao redor foram dominadas pela mão do homem que construiu suas casas e apartamentos para os novos moradores, que vieram de todas as partes do mundo, a partir de sua fundação de Israel em 1948. Oficialmente, Jerusalém é considerada a capital do país, mas não para a ONU. As embaixadas estão em Tel Aviv que é a capital financeira. Em Jerusalém está o Parlamento, o Knesset e ali residem os ministros e todo o governo.
Igreja Santo Sepulcro, a maior

O coração da cidade é a velha Jerusalém, palco de tantas histórias, de derrotas e vitórias. Ali estão as bases das religiões cristã, judaica e muçulmana. As três religiões reivindicam para si a primazia do local. De 1948 até 1983, a cidade estava dividida em oriental e ocidental. Em 1983, Israel, que dominava a parte ocidental se apoderou da Jerusalém Oriental que pertencia à Jordânia. Desde então, a cidade foi dividida em quatro partes: dos judeus, dos muçulmanos, dos cristãos e dos armênios. O quarteirão dos judeus abriga o famoso Muro das Lamentações e as escavações do lado sul, dos tempos do Rei David. Possui também o túmulo do Rei David e uma quantidade muito grande, em torno de 40 túneis da cidade antiga. Um deles tem mais de 600 metros de comprimento e levava água de fora dos muros para a piscina de Siloé, local de curas feitas por Jesus. Os cristãos têm em sua área cerca 40 conventos e igrejas, destacando-se o Santo Sepulcro, cenário da paixão, morte, sepultamento e ressurreição de Jesus; a Via Dolorosa, com  suas 14 estações, passando pelas ruas estreitas que abrigam hoje muitas lojas; o Cenáculo da Última Ceia, entre outras igrejas como a da Flagelação. No quarteirão dos muçulmanos distingue-se a Domo da Rocha e a Mesquita de Al Aqsa. Tem também o bairro armênio que abriga várias igrejas.
A reza no Muro das Lamentações

 Andando pela cidade velha quase não se distingue os bairros e nas ruas estreitas, por onde não passam carros, existem milhares de lojinhas, que oferecem produtos aos peregrinos, tanto cristãos como judeus e muçulmanos. Ali se encontra toda sorte de presentes confeccionados em madeira de oliveiras e produtos “made in China”, como em qualquer outro lugar do mundo. A pechincha existe em todas as lojas. Vendem também roupas e comidas típicas árabes como a shawarma e o falafel, à base de carne e verduras, com aquele pão árabe redondo, que chamam de pitas. É o “fast food” dos árabes. No bairro muçulmano, vendedores oferecem verduras frescas na rua.
A Via Dolorosa tem 14 estações

A principal atração para os turistas é o Muro das Lamentações, onde qualquer pessoa pode rezar, tocar o muro de 70 metros de largura e deixar um bilhetinho com pedido a Deus. Para rezar, os homens ficam separados das mulheres por uma cerca. Fiquei ali por alguns minutos, invocando ao Deus dos judeus e dos cristãos, uma solução para os conflitos nesta Terra Santa, onde não existe paz duradoura.
Em primeiro plano, cemitério dos judeus. Ao fundo, a cidade velha

Para os cristãos, uma grande atração é o Santo Sepulcro, que recebe, diariamente, milhares de peregrinos. O edifício é compartilhado pela igreja católica, pelos gregos ortodoxos e pelos armênios ortodoxos, gerando muita confusão. A chave da Basílica está confiada a uma família muçulmana que abre e fecha a igreja todos os dias. A impressão que se tem, entrando na igreja, é de grande balbúrdia, pois os peregrinos formam imensas filas para visitar o local do sepultamento e o empurra-empurra dificulta a concentração.
Um pé de oliveira de mais de 1000 anos

Fora dos muros, a seis kms, situa-se a cidade de Belém, local do nascimento de Jesus e o Monte das Oliveiras, onde Jesus foi preso. Ali, a principal Basílica é  a da Agonia de Cristo. O frei franciscano Darcísio Hobaert, gaúcho de Crissiumal, trabalha ali e se considera guardião das oliveiras. Ele revelou-me que, diariamente, visitam a Basílica mais de 10 mil pessoas. Ali estão as famosas árvores do Jardim das Oliveiras com mais de 1000 anos de existência.
O grande problema para a Igreja Católica é a ausência de cristãos residindo na Terra Santa, principalmente em Jerusalém, onde predominam os judeus e os muçulmanos. O mesmo ocorre em Nazaré e Belém, onde predominam os árabes muçulmanos.
Igreja da Agonia, no Monte das Oliveiras


Jerusalém segue sendo uma cidade indivisível, que sempre será dos judeus, como eles afirmam. Por ela, este povo dará a vida, se for necessário. Disso, não tenho dúvidas.








segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Magdala, a cidade que acordou do sonho letárgico de dois mil anos



O incrível aconteceu: um Projeto chamado Magdala Center que previa a construção de um hotel, restaurante e igreja ás margens do Lago Genezaré, em Israel, teve suas obras paralisadas por um ano pelo seguinte: quando os construtores começaram as sondagens do hotel descobriram a 50 cm do chão, as ruínas de uma imensa cidade milenar dos tempos de Jesus, chamada Magdala. E aí vem a surpresa: é a terra natal de Maria Madalena, a mulher forte dos evangelhos que seguiu a Jesus até sua morte e ressurreição. As ruínas são o achado arqueológico mais importante dos últimos 50 anos.
Voluntários auxiliam arqueólogos nas escavações


Tudo começou quando Juan Solana, um padre visionário mexicano, da Congregação dos Legionários de Cristo, sonhou em 2005 construir um local para peregrinos cristãos, às margens do Lago Genezaré, ao norte de Israel. Feito o projeto, depois de passar para Autoridade Arqueológica de Israel, as obras começaram em 2009 e foram interrompidas quando as máquinas  perfuratrizes foram barradas por uma imensa pedra. Era parte da sinagoga judia, dos tempos de Cristo, uma das sete encontradas em Israel. As obras pararam por um ano e depois foram reiniciadas as escavações, que hoje completam quatro anos. O resultado é assombroso: uma cidade inteira está sendo descoberta, pedra por pedra, surgindo da dormência de dois mil anos para a luz solar do século XXI. “Recebemos gratuitamente um presente do céu: uma cidade dos tempos de Jesus, sem sabermos nada de sua existência”- diz o Pe. Juan Solana, o idealizador do Projeto Magdala Center.
A sinagoga do primeiro século

         O sítio arqueológico é formado por toda a cidade. Até o momento foram escavados cerca de um terço do total e as descobertas são muito importantes: a sinagoga, o mercado público, a Casa dos dados, ou seja, dos banhos de purificação, o bairro dos pescadores, casas de pobres e o porto de Magdala. Visitei e ajudei a escavar em alguns lugares, como é o caso do cais do porto. A sensação é que estamos acordando uma cidade inteira de seu sono letárgico de dois mil anos.
A pia de pedra para lavar as mãos

         A maior descoberta é a sinagoga. Tem forma quadrada, com as dimensões de onze metros de comprimento por onze de largura. Os bancos são de pedra maciça. No meio da sinagoga foi encontrada uma menorah, símbolo dos judeus que existia no Templo de Jerusalém, no Santo dos Santos. É uma pedra retangular, de 50 cm de comprimento por 40 cm de largura, com símbolos esculpidos. É a primeira vez que se encontra este símbolo fora de Jerusalém. O lado de cima da pedra tem uma roseta símbolo do poder de Deus que é infinito; duas palmeiras; quatro folhas com a forma de corações, dois cálices; duas ânforas para colocar azeite. Nos lados tem quatro arcos, duas lâmpadas de azeite e duas rodas com línguas de fogo, simbolizando Elias que subiu ao céu com um carro de fogo. Ao lado da sinagoga, existe uma sala, chamada de Bet Midrash, onde se ensinava a Torah, o livro sagrado dos judeus. Na rua lateral  da sinagoga se encontra uma pia de pedra para lavar as mãos. Esta sinagoga é bem possível que Jesus tenha freqüentado, pois ele pregava de cidade em cidade, de aldeia em aldeia e utilizava a sinagoga como púlpito. Nos evangelhos há um trecho que narra a multiplicação dos sete pães e dois peixes. Depois do milagre Jesus dirigiu-se a Magadan, o que significa Magdala. Além do mais, Magdalena que vivia na cidade, era amiga de Jesus e uma das mulheres que viajava com Ele.
A Menorah com símbolos judaicos

Outra descoberta que fica ao lado da sinagoga é o mercado público. Existe uma rua que corre de norte a sul. Ali foram descobertas salas dos comerciantes, com tanques para salgar o peixe e com pequenas piscinas, onde colocavam o peixe vivo. Outra atração é a Casa dos Dados com os famosos mik wa’ot, ou seja, locais de purificação onde os judeus tomavam banho várias vezes por dia. São três os mikwa’ot que possuem água limpa e corrente até os dias de hoje. Há uma cisterna onde brota água límpida. Mais adiante está a casa onde viviam pessoas mais simples, pois não possuíam os mikwa’ot. Também existe uma rua que separa as casas. Caminhando em direção ao porto, vemos a casa dos pescadores, com repartições para guardar as redes. Magdala, na época era o maior centro pesqueiro do Lago Genezaré. Seus produtos salgados eram vendidos em Jerusalém e até em Roma. Ali foram encontrados anzóis e peças para redes de pesca E perto do Lago, o cais do porto, com salas para o comércio local e ruas internas. Ali foi encontrada uma âncora. São inúmeros os achados pelos arqueólogos, como espadas, mais de 700 moedas, vasos de cerâmica, vidros, dados, vasilhas de perfume, objetos para maquiagem, colheres, facas, colares, anzóis, chumbos para redes de pesca, além de outros de menor importância.
Um dos banhos de purificação

O Projeto Magdala Center está construindo no local uma igreja, um restaurante e um hotel para 300 peregrinos.
Foram encontradas mais de 700 moedas

Magdala na história
A histórica Magdala, na época de Jesus, era uma cidade fortificada com muros e tinha em torno de 15 a 20 mil habitantes. O viajante que vinha do Egito ou dos portos do Mar Mediterrâneo em direção a Damasco na Síria, hospedava-se em Magdala e por isso havia pousadas.  Os invasores romanos comandados pelo general Vespasiano e seu filho Tito, em 66 dC, invadiram a Galileia, incendiando e matando milhares de judeus. Magdala foi invadida pelo general Tito. Os judeus fugiram e muitos embarcaram em barcos e ficavam a uma distância de 100 metros, dentro do Lago. Os romanos fizeram novos barcos e foram ao encontro dos judeus que morreram aos milhares. Diz o historiador Flávio Josefo, presente ao ato, que foram mortos em torno de 6.500 pessoas. Os que saíam nadando, eram perseguidos pelos romanos que cortavam as mãos para impedirem o nado. A praia ficou vermelha de sangue e de cadáveres. Uns dias depois, o fedor dos cadáveres era tanto que os romanos tiveram que voltar a Tiberias. Junto, foram judeus que ficaram na cidade. Em Tiberias, Vespasiano ordenou a matança de todos os velhos e os que podiam pegar em armas. Mais de seis mil homens foram enviados ao imperador Nero para a construção do Istmo de Moréia (Grécia). O restante do povo foi escravizado e cerca de 30 mil foram vendidos. Este foi o triste fim da cidade de Magdala, que hoje ressurge para assumir seu lugar na história.
Á esquerda, as pias para salgar peixes





domingo, 24 de novembro de 2013

Banias a cidade mais pagã nos tempos de Jesus em Israel



Israel é conhecida nos tempos antigos como o país que Deus escolheu para enviar Jesus aos homens.  Todos nós conhecemos sua história, desde Abraão, passando por José do Egito, destacando, os profetas e finalmente a criação do povo judeu, com as 12 tribos. Era considerado o lugar mais crente da face da terra, já que o judeu foi um povo escolhido por Deus.
Ruínas esculpidas no Monte Hermon

Mas poucos conhecem o lugar mais paganizado da época em toda Israel que é Banias (em árabe Panias). Era adorado o deus Pan, que é o deus dos bosques, dos rebanhos e dos montes. Havia sacrifícios de bodes e os restos eram enterrados próximo do templo de Pan, Outro templo era em homenagem à "deusa da vingança" (Nemefis), e um terceiro ao "deus Zeus".
 Herodes I ajudou a erigir tais templos e deu a cidade de presente a seu filho Filipe II, que em homenagem ao imperador romano César Augusto, chamou de Cesarea de Filipe, nos tempos de Jesus.
Aqui nasce o Rio Jordão, no Monte Hermon


Se você está no lago Genezaré, ao norte de Israel e quer ir até Banias é muito fácil: são em torno de 40 km de estrada asfaltada, entre colinas, ladeando o Rio Jordão, até chegar a Banias, onde verá as ruínas dos templos e ali estão as nascentes do rio. No sopé do Monte Hermon, em meio à rocha, ainda hoje brota água pura, que, unindo-se a outras vertentes forma o famoso rio Jordão, palco de tantas lutas e glórias no passado e no presente. Digo presente, pois estas vertentes foram um dos motivos da guerra de Israel contra a Síria e Egito em 1967. Havia projetos da Síria e da Jordânia para desviar o leito do rio para diminuir a seca naqueles países, carentes de água. A região foi invadida por Israel, incluindo parte do Monte Hermon e parte das montanhas de Golan, palco da guerra de 67, vencida pelos israelenses.
A água do Rio Jordão é pura

Desde então, Israel tomou posse de uma grande extensão de terra, de grande importância militar, econômica e social, pois o Líbano dista apenas 20 km de Banias e Damasco, a capital da Síria, outros 60 km. Para Israel, o Rio Jordão é fundamental para sua agricultura irrigada que, cuja água canalizada vai a todo o país. Na região de Banias, cujo vale se chama Hula e na região do Vale do Rio Jordão, estão os maiores kibutz e empresas rurais responsáveis por toda a agricultura e fruticultura do país. As frutas de Israel são exportadas para diversos países.
O Monte Hermon

          O Monte Hermon com seus 1224 metros de altitude é uma preciosidade turística, pois neste país desértico, o monte oferece pistas de esqui, em meio a neve no inverno. O parque de Banias é extenso e inclui as ruínas dos templos esculpidos na rocha do Monte Hermon. Foram construídos há mais de dois mil anos atrás. No ano 1000, os cruzados erigiram igrejas cristãs e posteriormente, foi uma cidade habitada por árabes.
O altar dos deus Pan

Para nós cristãos há outro motivo. Ali, andou Jesus e nesta ocasião testou Pedro e os discípulos, perguntando quem Ele era. Pedro disse: Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo (MT 16.13-20). Ali, na cidade mais paganizada de Israel, em meio aos deuses, Cristo reafirma sua divindade, como o Salvador, o Messias. Cristo em grego (Christós) quer dizer o Ungido, o Messias. Pela primeira vez, pronuncia-se a palavra Cristo. E o que Jesus respondeu a Pedro? “Bem-aventurado sois, Simão, filho de Jonas, porque não te revelou isso carne nem sangue, mas meu Pai que está nos céus”.
Esta cidade está fora do roteiro dos peregrinos que acorrem a Israel.




quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Megido, local da batalha final do fim do mundo. Será?



Israel é rico em cidades com histórias fascinantes ocorridas há milhares de anos atrás. Uma delas fui conhecer no fim de semana passado. Chama-se Megido ou Megedo, uma cidade sobre um monte, perto de Nazaré, na Samaria, no vale de Esdrelon. De cima do monte pode-se observar, em todos os lados, imensos campos agricultáveis do Vale de Esdrelon (hoje Jesrael). Megido era um lugar estratégico de observação militar e por ali passava a Via Maris, a estrada dos romanos que ligava o Egito a Damasco. Daí a importância de ser dominada por impérios, pois era a porta de entrada de todo o Oriente Médio.
São 5,6 ha de escavações

Durante séculos, ela exerceu hegemonia em todo o Oriente Médio. Durante mais de quatro mil anos aconteceram diversas batalhas decisivas da história do antigo Israel. Cerca de 26 cidades foram construídas e reconstruídas, umas sobre as outras, para servirem de fortaleza na guarda da passagem pelo vale, de forma que uma colina acabou se formando onde ficavam essas cidades.
Terras boas para a agricultura

Ali, foram se sucedendo impérios dominados pelos assírios, persas, egípcios, romanos e todo o reino dos judeus, desde a posse da Terra da Promissão chamada Israel. Nomes como  Tutmés (faraó em 1494 aC), Ramsés (faraó), Senaqueribe (Rei assírio, 781 aC), Nabucodonosor (babilônio em 594 AC), Tolomeu (rei egípcio 309 aC), Pompeu (general romano) e Tito (general romano) estiveram ali e tomaram posse por algum tempo.
Hoje Megido é uma área arqueológica de 5,6 hectares, difícil de entender suas ruínas, pois foram camadas de terra e pedra, de cidades sobrepostas, a começar dos cananeus até os romanos, antes de Cristo.
Os cochos para cavalos do Rei Salomão


         No quarto nível de ocupação de Megido, o nível da época do Rei Salomão (1009 aC)), os escavadores desenterraram estábulos que acomodavam 450 cavalos de carros de guerra. Estes estábulos estavam ordenados em seções de maneira que cada unidade pudesse ter cavalariças individuais para 24 cavalos. Havia doze cavalariças de cada lado, uma em frente da outra, e ao extremo de cada uma delas havia cochos de pedra no qual o cavalo comia forragem ou grão, como atestam as fotos.
Foram muitos os achados. Um deles é o famoso selo de jaspe que dizia: “Shema, funcionário de Roboão.” O selo correspondia a época de Jeroboão I (931-910 a.C.), portanto quase três mil anos atrás. Também os arqueólogos descobriram um grande mosaico que servia de piso daquela que, segundo alguns, poderia ser a mais antiga igreja cristã. Provavelmente dos anos 240- 241 dC. No mosaico está inscrustado o símbolo cristão, o peixe e algumas inscrições.
Poço e túnel

         Uma construção incrível é da época do Rei judeu Acab (878 aC). Para se proteger dos invasores e ter água em abundância, ele construiu um poço vertical de 180 degraus, em plena rocha e daí um túnel horizontal de mais de 70 metros até chegar a uma vertente, escondida fora dos muros da cidade. Assim obtinha água no tempo do cerco da cidade. Servia também como rota de fuga. Os turistas passam por este túnel e ao final, encerra-se a visita, fora do monte.
Ruínas de três mil anos

Para nós, cristãos, o principal é o que está no Apocalipse de João que diz: “Então congregaram os reis no lugar que em hebraico se chama Armagedom” (Ap 16.16). Esta batalha se define como sendo a Batalha de Armagedom. A palavra "Armagedom" vem do hebraico Har Megiddo, que significa Monte Megido. Será a batalha final entre as forças do bem e do mal. Alguns especialistas acreditam que será a extinção do mundo pelas forças do bem e do mal. Jesus descreve quando será esta batalha: "E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória [em brilho e esplendor]. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus escolhidos  desde os quatro ventos,  de uma à outra extremidade dos céus”. (MT 24.29-31)




domingo, 17 de novembro de 2013

Ruínas de Beit Shean resistem ao tempo



Pelas ruas de Beit-Shean caminharam Jesus e os discípulos. Naquele tempo, a cidade chamava-se Cytópolis, pela influência grega na região. Mas esta história é antiga. Fundada há cinco mil anos atrás, a cidade passou por diversos domínios até ser sede da batalha dos filisteus contra o Rei Saul no ano 1000 aC. Os filisteus foram vencedores, cortaram a cabeça do Rei Saul e a penduraram nas muralhas de Beit Shean como um troféu. Posteriormente os romanos a conquistaram e edificaram uma imensa cidade, com templo, teatro, casa de banhos, avenidas e fontes. Os cristãos nela estiveram por séculos, porém em 749 dC, foi destruída por um  grande terremoto que não deixou  pedra sobre pedra. A reconstrução da cidade ocorreu aos poucos, principalmente depois de 1948.
Os spas dos romanos. Local que esquentava a água


As imensas colunas dos templos

Essa é parte da história de Beit- Shean, uma cidade localizada no sul do lago Genezaré, a uns 80 km de Jerusalém. Nos dias de hoje, é um importante sitío arqueológico israelense. O visitante depara-se com as ruínas de uma cidade que foi pujante na época dos gregos e romanos , constituindo-se em uma das maiores cidades romanas aqui em Israel.
Ruínas de uma igreja dos anos mil

 Primeiro, aparecem colunas romanas recolocadas em uma imensa avenida. À esquerda, os banhos termais, com os fornos de aquecimento da água. Era o passatempo dos antigos. Em seguida, caminha-se, por mosaicos milenares, 150 metros até se chegar a um templo romano e a uma fonte d' água. À esquerda ruínas bizantinas (depois de 300 dC) e restos de uma igreja com a pintura de uma cruz. Uma imensa e larga avenida empedrada, denominada Rua Silvanus leva às monumentais colunas de templos. Em seguida, outro lugar para banhos termais e o banheiro público, que tinha água corrente e assentos de pedras, um ao lado do outro. Depois vê-se um outro templo e logo o monumental anfiteatro romano, com capacidade para sete mil pessoas, reconstruído pelo general Pompeu em 63 aC. Um imenso palco, de uns 30 metros de largura, feito de pedra reunia os melhores dançarinos e cantores da época. Atualmente, são realizados concertos de música no mesmo local. Também existia um hipódromo para carreiras de cavalos e apresentação de gladiadores. Ao centro, a chamada Ágora grega, uma praça principal onde os cidadãos discutiam problemas políticos e realizavam feiras populares.

O teatro para sete mil pessoas, ainda hoje em  uso

Na época de Jesus, Beit Shean , chamada Cytópolis, era a capital da Decápolis,   dez cidades as quais o Rei Herodes deu nomes gregos. Diz a Bíblia que ao retornar de uma viagem às regiões de Tiro e de Sidon, na Fenícia, Jesus veio ao “mar da Galileia, subindo através das regiões de Decápolis”. (Mc 7.31) Em alguma parte desta região ele curou um homem surdo-mudo e, mais tarde, alimentou milagrosamente uma multidão de 4.000 pessoas.
Os banheiros públicos com água corrente

Por ser uma região plana e produtora agrícola desde os tempos antigos, foi considerada como “Portão do Jardim do Éden”. Ainda hoje é uma das maiores produtoras de frutas, verduras e outros alimentos









quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Acre - onde o tempo parou


A visita feita à cidade histórica de Acre, ao norte de Israel, nos causou muita surpresa. A impressão que se tem é de uma volta ao passado que começa com as ruínas do tempo dos cruzados, há mil anos atrás, e termina com uma cidade dos séculos XVIII e XIX, totalmente conservada. Localiza-se em um porto antigo no Mar Mediterrâneo em frente à cidade industrial de Haifa. São ruelas estreitas, mesquitas lindíssimas, altos minaretes, túneis secretos de mais de 200 metros, por onde passavam cavalos, grandes salas de palácios antigos, banhos turcos, fortalezas com paredes de 3 metros de espessura. Durante séculos, Acre foi o mais importante porto do Oriente Médio.

O antigo porto com a fortaleza

A cidade israelita de Acre passou por várias mudanças de nome durante os três mil anos de sua existência. Na antiguidade a cidade foi chamada de Ace,  Ptolemais e  Accho. Na bíblia, a cidade é referida como Accho no Antigo Testamento e como Ptolemais no Novo Testamento. Mas foi na Idade Média que a cidade esteve no centro de grandes eventos da humanidade e já com o nome de Acre. Hoje, a cidade moderna chama-se Akko.
Ruas estreitas de mais de 200 anos

Para termos uma idéia de sua importância histórica, a cidade foi conquistada por Alexandre Magno em 313 aC. Nela estiveram Caio Júlio Cesar, Imperador Romano; o médico, filósofo e sábio judeu Maimônides; São Paulo fez uma parada aqui junto com o apóstolo e evangelista Lucas, depois de voltar de sua terceira viagem apostólica (At 21.7); em 1220, São Francisco visitou Acre, após passar pelo Egito; Saladino, o muçulmano, conquistou a cidade em 1187. O cruzado Ricardo Coração de Leão a reconquistou em 1291, por pouco tempo. Durante toda a Idade Média, diversos povos dominaram a região, além dos cruzados que ali ficaram por séculos. Em 1737 foi construída a Igreja São João do Acre. Mais tarde, em 1799, Napoleão Bonaparte tentou invadir a cidade, mas foi repelido pelos moradores. Na primeira guerra mundial, Acre estava sob o domínio do Protetorado Inglês e um de seus palácios serviu de prisão para judeus revoltosos. Em 1948, após a independência de Israel, o exército tomou conta da cidade e inúmeros árabes fugiram da cidade.

Mesquita de 1737

A atual cidade tem em torno de 50 mil habitantes.  A população, em grande parte, é árabe sendo que os israelenses estão investindo muito na construção de novos apartamentos para serem habitados por judeus que constantemente se transferem de outras partes do mundo para Israel. Tanto os palestinos como os Jihads, considerados terroristas, reivindicam a cidade para si.
Túnel dos cruzados de mais de 1000 anos

Já a cidade antiga é quase totalmente habitada por árabes que ocuparam as casas antigas, de mais de 200 anos. Existem inúmeros prédios que estão vazios sendo que alguns fazem parte do tour turístico. Uma das atrações é uma mesquita adornada artisticamente, datada de 1737, e a outra, a mais famosa,  são os chamados banhos turcos, que foram construídos em 1797 e funcionaram até o ano de 1951. As construções dos banhos turcos resistiram ao tempo e na visita ao local pode-se ver uma fonte de água, os instrumentos que eram usados na época e o vestuário nas esculturas de figuras humanas, em tamanho natural, recebendo os serviços de massagem e de banhos quentes. A administração do local sempre foi feita pela mesma família. Um filme conta toda a história do local por várias gerações e do sucesso dos banhos para visitantes. Há também um edifício do século XVIII, de grandes dimensões que era usado como um hotel para os visitantes. No primeiro piso ficavam as cavalariças usadas tanto para cavalos como para camelos e o depósito de mantimentos e produtos em trânsito. No segundo piso, ficavam os quartos. O edifício hoje está fechado e necessita de reformas. Toda a cidade antiga precisa de reformas. Nas ruelas há todo tipo de comércio popular, lojas de artesanato, pequenos restaurantes e bares, que oferecem comida árabe, mas também sanduíches e o tradicional suco de romã. Incrivelmente, há produtos “made in China”, rosários e lembranças feitas de plástico.

Palácios com colunas imponentes

Embaixo desta cidade, foi descoberta outra, do tempo dos cruzados (1109 a 1291), sendo que a maior atração a visitar é um túnel de mais de 200 metros, com mais de três metros de largura e quase três de altura. Era um local secreto para a fuga até o cais do porto, no caso de serem atacados. Os cruzados construíram uma gigantesca fortaleza, que foi tomada e reforçada pelos muçulmanos, depois de quase 200 anos de dominação dos cristãos.
Pousada de mais de 200 anos atrás

Sala dos banhos turcos

Pela sua grandiosidade e pela sua história, a ONU declarou Acre, a cidade antiga, como Patrimônio Histórico da Humanidade.