terça-feira, 14 de outubro de 2014

Em Cuba, economia a caminho do capitalismo



             Um dos passos da economia cubana para implantar uma economia capitalista num regime socialista é o chamado “cuentapropismo”, ou seja, permissão para o cubano trabalhar por conta própria, abrindo pequenos negócios ou participando de cooperativas não agropecuárias (CNA). Este é o caminho escolhido pelo presidente Raul Castro, desde o ano passado. De lá para cá, cerca de 471 mil trabalhadores optaram por ter um negócio próprio. Nos últimos três meses, a média mensal de novas inclusões foi de 8 mil. Isto significa uma mudança muito grande na economia, que até agora, era totalmente estatal, passando para um sistema capitalista de empresas próprias. Deste total, cerca de 69 % declararam que não tinham vínculo empregatício.
Lojinha vendendo sanduiches


             De fato, ao percorrer as ruas de qualquer cidade, observa-se que em muitas janelas de residências existem pequenos comércios, como venda de roupas usadas ou de pasteis, sanduíches e principalmente de sucos caseiros. São iniciativas legalizadas, pois o pequeno empresário paga imposto e, pode ter empregados. Também são acolhidos no regime de seguridade social. As principais empresas são de elaboração de alimentos de toda espécie, transporte de cargas e de passageiros, agentes de telecomunicação (venda de celulares) e produtor/vendedor de artigos artesanais. No transporte de passageiros, por exemplo, o caminhão que até bem pouco tempo era estatal passa a ser privado. A diferença está na placa do veículo. Se a placa começar com a letra P é sinal que é privado. Pode-se notar a diferença no cuidado com o veículo, com mais conforto,por exemplo, o assento pode ser estofado, ao contrário dos caminhões estatais cujo assentos são de tábua pura. Também nos pequenos restaurantes percebe-se que o privado tem mais iluminação, decoração, flores e opções no cardápio.Já as empresas de maior vulto, estão investindo na elaboração de polpas de frutas, purê de tomate e doces. Há uma diversidade de produção. Para estas, estão sendo criadas cooperativas não agropecuárias (CNA) que congregam trabalhadores que atuam nos mais diversos ramos, principalmente da gastronomia, turismo e elaboração de sucos. Também no ramo da construção civil, juntam-se profissionais de diversos ramos e constituem uma cooperativa para oferecer serviço e construção e reforma de casas. Aliás, é o ramo que mais cresce em Cuba, já que ogoverno passou a permitir a reforma de residências e edifícios.
Venda de alimentos

             Em um café, por exemplo, a Cafeteria Tropical, localizada entre a 12 e a 21, no bairro Vedado, há uma oferta de 23 produtos diferentes e não apenas café. São sucos, frituras, tostados de banana e doces. Acrescentam-se produtos provenientes de mini-indústrias artesanais, que são os fornecedores, dentro de um regime capitalista. Também oferecem uma parrillada para vender na hora do almoço. Com isso, o salário dos empregados passou de 250 pesos para 600 pesos. O Restaurante Varsóvia, em Havana, de estatal se transformou numa cooperativa dos antigos empregados. Além de oferecerem almoço, à noite o restaurante transforma-se em uma pista de dança, ou de festas de casamento. Tudo isso, com uma limpeza impecável e empregados uniformizados. Até julho deste ano, as cooperativas não agropecuárias (CNA) somavam 240 em todo o país, destacando-se comércio, serviços e construção civil. Existem também cooperativas agropecuárias.
          Segundo a lei 305, artigo 2, “o objetivo geral é a produção de bens e a prestação de serviços mediante uma gestão coletiva para a satisfação do interesse geral e dos sócios. Os gastos são cobrados com as entradas e elas respondem por suas obrigações e do seu patrimônio. Pagam os impostos estabelecidos e distribuem os lucros entre os sócios, na proporção do trabalho feito por cada um”.
Os cocotáxis são privados

           A subdiretora de Emprego do Ministério do Trabalho, Idalmys Mendive, disse que com esta independência e liberdade de criar empresa própria, ainda não existe um controle total sobre as empresas ilegais. Este, por enquanto é o problema, pois em toda parte surgem vendedores ambulantes, oferecendo produtos alimentícios e bugigangas contrabandeadas.


As carroças de passageiros são privadas

            Este caminho, apesar de ninguém admitir que seja um passo capitalista no velho sistema socialista, demonstra o começo da derrocada do sistema econômico vigente que não suporta mais ser o pai de todos. O desabastecimento reinante há anos mostra a decadência do modelo antigo, e a urgência de uma transformação, ainda que em pequenos passos. Eu acredito que seguirão o modelo chinês para continuar sendo um país socialista, com um partido único e a continuidade da ditadura dos irmãos Castro, com uma economia capitalista.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Perseguição religiosa em Cuba ainda não foi resolvida

              Cuba era um país católico até a Revolução.A partir dela, as práticas religiosas foram sendo proibidas até que em 1961 houve a expulsão de 131 religiosos católicos de 14 diferentes nacionalidades, entre eles, 33 padres cubanos. Todos foram colocados no navio Covadonga e expulsos do país rumo à Espanha. As igrejas foram fechadas e todas as escolas e creches, pertencentes a entidades católicas, foram confiscadas, com a expulsão de centenas de religiosas que tiveram que voltar para seus respectivos países.
       Um golpe mortal foi o fechamento de todas as escolas católicas, de maristas, lassalistas e de freiras. Foram em torno de 250 escolas e até hoje nenhuma foi devolvida. É proibido abrir escolas particulares, todas são estatais.Também foram afetadas outras igrejas como a batista, a metodista e a anglicana.
Colégio Lassalista ainda não foi devolvido pelo governo

       A partir daí, Cuba decretou-se estado ateu, o nome de Deus foi abolido e substituído pelo comunismo..Passados 53 anos da Revolução, somente os idosos ainda professam a religião.As novas gerações foram instruídas a pensar que “a religião é o ópio do povo”, e não só a doutrina deixou de ser ensinada, como todos os valores que ela prega e de modo especial, a importância da família para o indivíduo.Nos últimos anos, entre as reformas de abertura do sistema, Fidel Castro mudou a constituição e decretou Cuba como um estado laico, ou seja, com respeito a todas as religiões.

Capela reformada. Era um armazém

       Após a ida de João Paulo II a Cuba, houve uma abertura para com as igrejas, mas veladamente são impostos tantos controles e limitações ao trabalho dos missionários que para lá foram, que se torna muito difícil formar comunidades. Aos poucos, o governo está devolvendo as igrejas confiscadas e permitindo a prática dos cultos, contudo, continua a proibição de procissões fora das igrejas e estas só acontecem com autorização da Secretaria de Assuntos Religiosos, que coordena o trabalho das igrejas. De modo geral, todas as atividades devem ser feitas dentro das igrejas.Em várias cidades, o governo devolveu templos completamente sucateados, pois sabe que, através de doações de católicos do exterior, os prédios serão reformados, recuperando o seu valor histórico Em Santa Clara, uma capela, que tinha virado armazém foi devolvida e a paróquia já a reformou. Em Manzanillo, uma capela dentro de um asilo foi devolvida, mas o asilo que era dirigido por religiosas continua como asilo estatal.A tática do governo é de não brigar com os bispos, mas sim obstruir de todas as formas o desenvolvimento de uma comunidade católica, dificultando a pastoral religiosa. Funciona assim: se o governo quiser se livrar de um padre missionário, não renova seu visto e o padre é obrigado a sair do país; se o missionário precisar comprar um carro para trabalhar, a Secretaria de Assuntos Religiosos escolhe o carro ou, simplesmente proíbe a compra; um sacerdote não pode entrar em uma escola, pois a diretora seria perseguida e demitida se isso acontecesse ( ao religioso só é permitido entrar em hospitais e asilos para confortar os doentes); se surgirem lideranças leigas na comunidade que está se formando, o governo concede facilidades para estas pessoas obterem o visto e sair do país, já que este é o desejo de quase todas as pessoas mais cultas.

Capela em atividade

Também existe a dificuldade de imprimir publicações internas das Igrejas. O método é barrar a compra de papel, com a desculpa de que está em falta no mercado.Para impedir o avanço da Igreja há a proibição de construir novos templos. A solução encontrada foi comprar casas no meio das vilas e transformá-las em lugares de culto. São chamadas “Casas de Misión”.

Casa transformada em capela

Outra alternativa muito comum, é a celebração de cultos em casas de família, nas quais o proprietário reforma sua casa para abrigar um certo número de pessoas. Assim, é muito difícil para um leigo, católico ou não, praticar uma religião. O fato é que passados mais de 50 anos, o regime comunista conseguiu destruir as bases das religiões no país. Hoje, os que se aproximam das igrejas ainda tem medo de assumir certos compromissos, pois temem a represália do governo. Até bem pouco tempo, o jovem que se inscrevia para emprego, era barrado se dissesse que era católico. Aos poucos esta proibição está terminando.
Por isso, a tal liberdade religiosa, tão propalada em Cuba, é uma falácia que não resiste aos fatos do dia a dia. Está muito difícil a vida dos cristãos, pois não há liberdade de expressão. Os meios de comunicação ignoram completamente os eventos religiosos.

Casa de família aberta para cultos

Todo o proselitismo religioso é feito no contato pessoal, na amizade, e na solidariedade aos mais pobres e necessitados, pois miseráveis existem sim, em Cuba.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Mercado negro está solapando economia socialista cubana

                    O mercado negro, economia subterrânea ou “por la isquierda”, como chamam, irônicamente, os cubanos, está se transformando num dos maiores inimigos do socialismo. Por toda parte, a qualquer hora, existe um comércio informal que está solapando as bases econômicas de Cuba. São produtos contrabandeados de muitos países, e comercializados entre as pessoas, constituindo-se em um dos flagelos para a frágil economia daquele país. Por pesos em divisas (CUC) consegue-se qualquer produto cubano ou importado, em questão de horas. Pessoalmente fui testemunha de alguns negócios feitos à revelia da lei. Esta situação preocupa analistas do próprio governo.
Em qualquer lugar negocia-se no mercado negro

                   Vou transcrever parte de um artigo de um colunista do jornal Juventud Rebelde, do dia 31 de agosto de 2014, página 3. O colunista José Alejandro Rodríquez, escreveu sobre o assunto, sob o título: “Subterránea y peligrosa”. Diz ele: “Bolsa negra que incha. Mercado negro que se expande. Economia subterrânea que já não se esconde muito e perpassa os condutos da economia cubana. “Por la isquierda” como diz o povo da rua para qualificar o que se vende, de origem duvidosa, e se compra como um pão quente. Cada ano que passa, o chamado mercado negro se transforma e se rearticula com mais complexidade. Todo mundo sabe que existe esta distorção econômica, e percebe-se que ganha força, apesar de poucos falarem nela e muito menos ela é objeto de análise. Será que já nos resignamos a coexistir com este flagelo? O auge do mercado negro está dilacerando com os bons propósitos de atualização econômica. Com seus desvios e latrocínios, com seus circuitos paralelos e deformantes, estão se abrindo verdadeiras sangrias, em relação ao crescimento e desenvolvimento da nossa economia e postergando o bem-estar dos cubanos.
Caminhão de passageiros levando mercadoria

                   Não posso esquecer que boa parte das medidas do processo de atualização econômica, com sua flexibilização de espaços econômicos antes proscritos e eliminação de velhas proibições mercantis, podem constituir antídoto eficaz contra o mercado Sem dúvida, o inacabado modelo de transformações e os desequilíbrios e assimetrias que gera, poderão estar estimulando, por distintos caminhos, a economia 
subterrânea: a dualidade monetária e cambial, a insuficiência de oferta ante a demanda, no mercado cubano, a ausência de um mercado atacadista para o setor não estatal, os elevados preços tanto os oficiais como os da oferta e demanda; o flagelo dilacerante do descontrole, o desvio, o roubo de recursos estatais e o escasso poder mobilizante e estimulante do salário no setor estatal, entre outros condicionantes. Assim sendo, profano em matéria econômica, qualquer cubano poderá concluir só como resultado de sua observação cotidiana que o fomento do mercado negro e todas as suas corruptelas, pode converter-se em um dos inimigos mais fortes do socialismo em nossa sociedade, estrategicamente falando.
Uma rua comercial restaurada em Santiago

                   Só desenvolvendo as forças produtivas e erradicando muitos obstáculos, de maneira que nossa economia cresça sã e a ritmos maiores, poderemos neutralizar o perigoso flagelo da economia submergida que é um fenômeno generalizado no mundo. Porém Cuba é Cuba e não podemos confiar no automatismo de certas pragas econômicas, porque nos podem varrer. E quem sabe, algum dia, possamos abrir a brecha definitiva para a prosperidade sustentável, e possamos desatanizar a expressão de “por la isquierda”, de maneira que signifique mais e melhor socialismo".
                 Este depoimento revela o grau de fragilidade da economia socialista de Cuba, que se vê acuada por idéias capitalistas entrando sorrateiramente, através das necessidades do povo, em negócios informais. Aos poucos, Cuba está seguindo a cartilha da China que tem uma economia capitalista e um regime comunista.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Os famosos médicos de Cuba

        O Programa “Mais Médicos”, do governo federal, tem tudo a ver com os médicos cubanos. Nada menos 11.456 médicos daquele país atuam em 3785 cidades, nas mais remotas regiões brasileiras, e com índice de credibilidade muito altos, como atestou a pesquisa feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cerca de 86% da população atendida pelos médicos afirmou que a qualidade de atendimento melhorou. 
       O governo de Fidel Castro apostou na formação de médicos, como um dos seus principais objetivos, já que havia apenas 6 mil médicos no país, dos quais metade fugiu para os Estados Unidos, na época da revolução. Resulta que hoje o país dispõe de 80 mil médicos, numa proporção de um para cada 160 habitantes. Essa estatística transformou os serviços médicos em um produto de exportação, através do Programa "Mision". Foi uma das soluções encontradas pelos irmãos Castro para ajudar na agonizante economia cubana e hoje se constitui na maior fonte de divisas para o país. O Programa envia médicos para 60 países e arrecada em torno de 6 bilhões de dólares anuais.
Médico usando a bicicleta para ir ao trabalho
Somente do Brasil, o governo cubano já arrecadou 1,94 bilhão de reais, segundo dados do Ministério da Saúde. Na Venezuela, médicos cubanos, trocam seus serviços por 100 mil barris de petróleo por dia. Na África estão 4 mil desses profissionais. Qual seria a explicação para tantos médicos cubanos estarem dispostos a seguir em “Misión”- como eles dizem? Existem duas grandes motivações: a financeira e a possibilidade de fuga. O profissional recebe 10 a 20% do valor individual do contrato, conforme exige o custo de vida do país onde trabalha. O valor que ele conseguir economizar, pode ser enviado para a família, sem que o governo cobre as taxas habituais pelas remessas do exterior. Durante sua permanência no contrato, outro valor é depositado, pelo governo, no banco, como uma poupança da qual ele poderá dispor no seu retorno, o que, pela política atual, permitiria a reforma da casa ou a compra de um automóvel. Se ele abandonar o contrato, a poupança será confiscada. Os que têm como motivação a fuga, sabem que não poderão voltar ao país por 8 anos. Atualmente, o Equador com a concordância de Cuba, tem facilitado os encontros daqueles que fugiram, com suas famílias. Tendo recursos, a família recebe permissão para viajar até lá. Muitos fogem a partir dali, se o médico já tiver conquistado, em outro país, as condições de sobrevivência.
Judith e a filha Angélica

      Em Manzanillo, uma cidade à beira mar, no oriente do país, encontrei Judith Figueiredo, que trabalha como secretária. Seu drama familiar é um dos milhares que existem em Cuba. Ela está sendo vítima do Program “Misión”, pois seu marido, o médico Francisco José Álvares foi trabalhar na Venezuela e ali não se adaptou ao regime policial de controle dos médicos e, ajudado por um amigo, fugiu do país, refugiando-se na Colômbia. Depois, através do Equador, entrou nos Estados Unidos. O governo cubano, ao saber da fuga, imediatamente sequestrou os valores que eram depositados no banco para a família e que poderiam ser retirados somente após três anos. Já se passaram quatro anos. Judith conta que sua filha Angélica, de onze anos, todo o dia fala no pai e, a mãe, desesperada, não tem como confortá-la. A família vai ficar separada por oito anos. O marido não conseguiu revalidar seu diploma e trabalha como cirurgião assistente, apesar de ser um competente cirurgião. 
             O povo tem opiniões diferentes sobre o Programa "Mision". Se, por outro lado, o dinheiro que o médico cubano ganha e envia para a família é uma grande ajuda para a economia da casa, para reformar a habitação ou adquirir algum eletrodoméstico, por outro lado, longe da família por muito tempo, é comum arrumar outro parceiro ou parceira no país onde está. Os divórcios são uma realidade, desagregando famílias. Somente na Venezuela cerca de cinco mil médicos já abandonaram o Programa, casaram-se e muitos foram para os Estados Unidos, que possui um programa especial de concessão de visto de entrada para cubanos.
Posto de Saúde na periferia

           Outro problema é o abandono pelos médicos de seu trabalho habitual, muitos como médicos de família. Em Manicarágua, uma cidade do centro do país, um posto de saúde ficou sem o seu médico e a vaga teve que ser preenchida por uma enfermeira. Ali em cada quadra, há um posto de saúde, onde também reside o médico ou enfermeira. O titular percorre as casas da quadra, fazendo
Portaria do Posto
um trabalho de prevenção a todos os habitantes ou encaminhando pacientes para hospitais. Também existe uma certa insatisfação pela saída dos médicos, pois aumenta a concentração de pacientes para cada médico, ocasionando esperas e um péssimo atendimento. Os estrangeiros não podem entrar nos hospitais gerais, mas, por religiosos que prestam assistência espiritual nesses locais, soube que atualmente a precariedade de atendimento lá se assemelha à situação brasileira, tanto pela falta de recursos materiais como pela ausência dos médicos que vieram em grande número para o Brasil. Os médicos em Cuba ganham em torno de 40 dólares mensais, ao passo que indo p
Enfermeiras indo ao trabalho de bicicleta
ara o exterior aumenta para 800 a 100 dólares, dependendo do país. Por isso, é comum ver um médio indo de bicicleta para o trabalho.
             Nos hospitais chamados de “altas especialidades”, a situação é diferente, porque além de receberem os doentes cubanos que já passaram pelo atendimento geral, recebem muitos pacientes estrangeiros que pagam em dólares pelos tratamentos disponibilizados. Enquanto isso, o governo de Cuba continua arrecadando divisas com o produto humano, como o produto de exportação de maior valor para o país. O Programa “Mision”, não exporta apenas médicos, mas também enfermeiros, engenheiros e arquitetos. É a exportação de serviços socialistas para o mundo capitalista.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Ensino, a preocupação em Cuba



         Ao ler o jornal Granma, do dia cinco de setembro, deparei com uma notícia
dizendo que o Banco Mundial afirmou que Cuba tem o melhor sistema educativo da
América Latina e do Caribe. Fiquei intrigado com o assunto e procurei saber as razões
e conhecer um pouco o tema. É sabido que o forte de Cuba são o ensino e a saúde, mas
como ocorre isso?
Mãe conduzindo filho à escola

        Desde 1959, o governo comunista elegeu como prioridade o ensino, do fundamental até a Universidade. Segundo dados do Ministério de Educação, cerca de 1.800 mil alunos foram matriculados no ano letivo 2014-2015, que começou no dia 1° de setembro. Os universitários somam 100 mil alunos nas 22 universidades existentes. As ciências médicas totalizam 30 % de todos os alunos e as ciências naturais, 26 %. Cerca de 15 %  dos alunos cursam áreas técnicas; 12 % o ensino agrícola; 9,5% as ciências sociais e apenas 7,5% as ciências humanas. As escolas secundárias totalizam 1166, com 378 mil estudantes e o total de professores do curso primário é de 183 mil. Apesar disso, faltam professores saídos das escolas pedagógicas, pois atingem somente 93,1 por cento do total.
Alunos do secundário

         Com resultado desta política, Cuba hoje é um país sem analfabetos, cuja população busca o conhecimento em livros, jornais, revistas, cinema e outros, dentre os meios que estão disponíveis. Os graduados, em diversas áreas, mas especialmente os médicos e engenheiros, são produtos de exportação, no que chamam "Mision", e hoje representam a principal riqueza de Cuba, primeira fonte de divisas do país. Em Cuba, todos os estudantes usam uniformes. Para o primário, a cor predominante é o vermelho e para o secundário é o cáqui e o azul.
          No dia 1° de setembro, presenciei, desde as 7 horas da manhã, um desfile de crianças, muitas com suas mães, que se dirigiam à escola. Foi muito bonito de ver, pois
parecia um dia de festa, tal a importância que é dada ao ensino. As mães estavam enfeitadas, usando seus melhores vestidos para levar os filhos e filhas à escola. Elas pareciam orgulhosas e os jornais deram manchetes para o primeiro dia de aula. Como é costume, a Ministra da Educação e outros dirigentes deram as boas vindas, concitaram os estudantes a atingirem os elevados níveis de ensino do país, e anunciaram algumas mudanças importantes para modernizar o ensino.
Alunos do secundário

          A primeira mudança é que as escolas, com seus membros diretivos, poderão escolher o horário das aulas, bem como de outras atividades. Normalmente, as aulas são em horário integral: começam às 8 horas e terminam pelas 4,30 da tarde, com várias atividades durante o dia, como esportes, biblioteca, pesquisa e ensino de línguas. Para os professores, a mudança prevê um tempo maior para prepararem suas aulas. A maior mudança é que o aluno terá a opção de almoçar em casa. Era uma reivindicação dos pais, pois segundo alguns, atualmente a crise econômica afetou a comida das escolas,que é pouca e com predomínio da soja e do yogurte. É comum alunos passarem mal na escola. Para o Estado, é uma economia os alunos mais velhos almoçarem em casa. Na escola, continuará o comedor no primário e a merenda escolar no secundário.
        Em Cuba, a água não é tratada e todas as famílias filtram ou fervem a água para tomar, para evitar doenças como a cólera. Os alunos devem levar para a escola, a água que vão tomar. De modo geral, as autoridades usam o termo flexibilização para os avanços deste ano, como a escolha de horários e a possibilidade da criança almoçar em casa. Afirmam que “flexibilização não é para baixar o rigor, mas sim visa propor uma dinâmica
diferente no processo docente-educativo, para que seja mais eficiente e desenvolva a
criatividade e a iniciativa e sejam mais bem atendidas as singularidades e diferenças em
salas de aula”.
Biblioteca pública  principal de Santa Clara

          No entanto, há um grande atraso em relação ao uso da internet. Os alunos pesquisam apenas em livros, pois a internet existente é utilizada apenas para o envio e recebimento de mensagens. O medo é abrir a internet para o mundo. Assim estão livres das influências externas. Um atraso abissal. Não há informatização na biblioteca pública de Santa Clara. Ainda usa-se o sistema de fichário manual.
          A valorização da educação é tão grande, que o governo comunista reserva
 10 % do PIB para o setor. Aqui no Brasil, são aplicados apenas 5,8 %, e o país ocupa o vergonhoso, 53°lugar entre 65 países. Pelos resultados obtidos, justifica-se o louvor do Banco Mundial para Cuba, como o país com melhor sistema educativo da América Latina e do Caribe.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Dissidentes começam a se organizar em Cuba


Há dissidentes em Cuba? Sim, são vários grupos de dissidentes, e o principal é a União Patriótica de Cuba (UNPACU), sediada em Santiago.
José Daniel o líder
 Foi fundada em 2011, por José Daniel Ferrer, um jovem que saiu das fileiras do Movimento Cristão de Libertação. No decorrer dos últimos anos, várias organizações se fundiram e decidiram agregar-se à UNPACU, como forma de fortalecerem-se contra o regime de Fidel Castro. Eles reivindicam a imediata liberdade dos presos políticos, os chamados prisioneiros de consciência.



O protesto em frente ao santuário

A UNPACU é uma organização pacífica, que luta contra as barbaridades cometidas pelo regime, ferindo os direitos fundamentais do ser humano. De modo geral, querem uma Cuba livre e justa. Para isso, produzem panfletos e audiovisuais, fazem caminhadas e os famosos protestos silenciosos, porque se protestarem com discursos ou cantos, serão presos. Além disso, organizam grupos dissidentes e realizam trabalhos sociais.
Caminhando fazendo gesto de L com os dedos

À esta organização, pertenceu um dissidente que ficou famoso no exterior. Chamava-se Wilman Villar Mendoza e realizou uma greve de fome,  por 50 dias, em 2012, que o levou à morte. Protestava por não haver recebido um juízo justo e pelas péssimas condições da prisão. Foi preso em 2011, por desacato à autoridade em uma marcha pacífica, e condenado a quatro anos de prisão.
O primeiro protesto que assisti e fotografei foi em Santa Clara, no dia 31 de agosto, domingo. As Damas de Blanco costumam ir, todos os domingos à missa e ali permanecem sentadas. Ao final da missa, o sacerdote as abençoa. Depois, em frente à Igreja de la Pastora, ficam eretas, em silêncio, por cinco minutos e depois se dispersam. Querem a liberdade  de seus maridos presos. São os chamados presos de consciência.
As Damas de Blanco em Santa Clara


O segundo protesto  foi em El Cobre, cidade vizinha a Santiago. No dia oito de setembro, segunda feira, assisti a uma manifestação de um grupo de 200 pessoas da UNPACU, em frente ao santuário de La Virgen de La Caridad. Era o dia da padroeira de Cuba. Eram 11 horas da manhã. Debaixo de um sol escaldante, os dissidentes, sob a organização do líder José Daniel Ferrer, reuniram-se nas escadarias do santuário. Permaneceram mudos, porém todos faziam um sinal em forma de L (Libertá) com os dedos das mãos. Ficaram sentados por 15 minutos, gesticulando para os presentes. Depois, levantaram-se e caminhando, seguiram por uma rua ao lado do santuário, batendo palmas ritmadas. Em seguida, marcharam, em silêncio, com os braços levantados e gesticulando, novamente fizeram o gesto de “Libertá” com os dedos, até se dispersarem. Este mesmo grupo, queimou no centro de Santiago, um outdoor do governo. Depois de 24 horas, o outdoor foi refeito.
As Damas dentro da igreja


Nestes últimos meses, tem aumentando o número de dissidentes e a UNPACU já possui mais de 10 mil adeptos, a maioria jovens. Também está aumentando a repressão policial, com detenções a toda hora. No dia da Padroeira de Cuba não houve detenções. Elas só ocorrem em locais onde não há a presença da população.
A vida dos líderes da UNPACU não é fácil. O líder Ferrer já ficou detido por sete anos e depois foi solto. Seguidamente prendem membros da organização. Em 2013, foram 5301 casos de detenção, sendo alguns libertados em poucos dias e outros retidos por mais tempo.
O outdoor reposto um dia depois de queimado

Apesar da presença de dissidentes em todo o país, dificilmente terão resultados positivos, pois a polícia de Cuba é uma das mais eficientes do mundo. Há uma organização popular através do CDR (Conselho de Defesa da Revolução), sediada em cada quadra das cidades, com pessoas que vigiam dia e noite cada cidadão, impossibilitando qualquer reação mais forte por parte do povo. Os informantes da polícia constituem um esquadrão e milhares de pessoas recebem salário para a delação de parentes e de vizinhos, o que gera um clima de insegurança que percebe-se em todas as onze cidades visitadas.