sábado, 16 de setembro de 2017

PAULINO SIMON, O TROPEIRO DA REGIÃO DE TAPERA

           Um dos grandes Simon do século XX, na região de Tapera, foi sem dúvida, Paulino Simon. Filho de José Simon e Catarina Stefens. Tropeiro, motorista, açougueiro e hoteleiro foram algumas de suas profissões durante a vida. Porém, deixemos que uma de suas filhas, Catarina Simon, descreva este pai herói. Em 2006, foram festejados seus 100 anos de nascimento:


Casamento de Paulino e Olinda


                     "Era um pai muito severo com os filhos, imprimia um ar de muito bravo e exigia muita responsabilidade. Era um grande batalhador, esperto, inquieto e aventureiro, mas ao mesmo tempo era um perfeito cavalheiro, alegre, divertido e carinhoso à sua maneira. Muito jovem ainda sentiu as dificuldades que a vida começou a lhe mostrar. Quando perdeu seu pai, com 9 anos, em São Sebastião do Caí, deixou sua mãe, a vovó Catarina para continuar a luta de criar seus irmãos. Acabaram vindo morar em Tapera onde implantaram o primeiro serviço hospitalar, hoje, Hospital Nossa Senhora do Rosário, no qual o papai também trabalhou, assim como os outros irmãos. Daria uma história só do hospital, tamanha foi a dificuldade que os serviços naquela época eram prestados. Uma das características que mais o identificava, era sua facilidade de fazer amigos, não importando a cor ou situação econômica e social. Os menos favorecidos eram os protegidos, que até hoje lembram com carinho e saudade a forma bondosa e fraterna como eram tratados.

Paulino Simon (sentado) quando criança
              Entre as profissões que exerceu ao longo da vida destacava-se o de tropeiro e sabia como ninguém como manusear o relho, e com ele chegava tirar o cigarro da boca de um companheiro exposto à distância. Igualmente como motorista, proprietário de um caminhão, viajava pelas estradas trazendo mercadorias para o comércio e indústria da cidade e região. Paulino foi o primeiro açougueiro de Tapera, com estruturas próprias para o abatedouro de gado. A carne era vendida no açougue no centro da cidade (na maior parte fiado ou de graça, auxiliado por seus filhos e peões). As tropas de gado eram compradas em Selbach, Lagoa dos Três Cantos e vilas próximas de Tapera. De Soledade, cidade distante 90 Km de Tapera, exigia dos tropeiros quatro dias de viagem, conduzindo a tropa para o abatedouro em Tapera. E por fim foi hoteleiro, e administrador do único hotel da época (1951) em Tapera, o Hotel dos Viajantes, o qual recebia viajantes de toda a região e outros estados.


                 Na Comunidade Taperense, Paulino sempre se distinguiu. Era um homem muito disponível e solicitado. Foi presidente do Grêmio Esportivo América, time de futebol de fama regional. Quando jovem foi um dos melhores ponteiros direito. Hoje sua foto faz parte da Galeria dos Presidentes da Agremiação. Era político militante, defendia as cores da UDN, por ele foi candidato a vereador, indicado por Tapera, então distrito de Carazinho. A Paróquia Nossa Senhora do Rosário sempre realizou e até hoje realiza a festa de sua padroeira e João Paulino contribuía muito nestas festas como responsável pelo churrasco, isto por muitos anos e não só na sede, mas nas capelas vizinhas também. Era dele esta árdua tarefa, de abater o gado, cortar, preparar a carne para a multidão de devotos da padroeira. Na cidade havia escola pública e colégio administrado pelas Irmãs do Sagrado Coração de Jesus. Para garantir a frequência de seus filhos, trocava as mensalidades por carne. O colégio oferecia além do curso primário, pintura, bordado, datilografia, piano e preparação para Primeira Eucaristia e Crisma. Os filhos mais velhos foram para o seminário, mas não chegaram a concluir estudos religiosos, pois optaram por outras profissões liberais. Participava em tudo e com muita representatividade, principalmente nos bailes onde conheceu a garota Olinda, com quem se casou e teve 15 filhos. Era conhecido pelas moças da época como um dos melhores dançarinos, e por isso era disputado. Até hoje as senhoras Rosinha Erpen e Zeferina Boff contam como torciam para que sua lindinha não fosse aos bailes para que elas pudessem dançar com o João Paulino. Também foi o primeiro a instalar luz elétrica na sua propriedade, uma hidrelétrica movida por roda d’água. E assim aconteciam as inovações na sua propriedade. Era muito criativo e naquela época os recursos técnicos e financeiros eram ausentes.
Homenagem da família no túmulo de Paulino em Tapera,
por ocasião de seus 100 anos de nascimento em 2006

                Sobretudo Paulino prezava a sua família. O namoro com Olinda, filha de Jacó Henrich e Madalena Staudt, moradores de Tapera, não era do agrado do vovô Jacó e para separá-los, levou-a para Novo Hamburgo. Morando com sua madrinha Catarina Schmidt, chegou a comprar uma máquina de costura e bordado para que ela ficasse longe de seu amor, que para vovô Jacó, era um rapaz namorador e muito paquerado pelas moças. Ele representava um perigo. Mas como se sabe, essa história de amor terminou de maneira muito bonita, porque para seu Paulino os desafios e dificuldades foram uma constante em sua breve e agitada vida. Perseguia com determinação e garra tudo que desejava. E foi assim, com seu caminhão, instrumento de seu trabalho, não hesitou ir até Novo Hamburgo e trazer seu amor de volta. Ao vê-la de volta, chegando em casa a noitinha com Paulino, vovô pediu para que vovó Madalena fosse para o quarto com as crianças, tia Julita e Valdomiro. Depois de muita conversa vovô Jacó chamou a vovó e disse: não tem mais nada a fazer, apronte o enxoval para o casamento. E em 29 de junho de 1929 casaram-se e seu primeiro filho, de 15 outros, nasceu no ano seguinte, no dia 25 de março de 1930.
    
               Essa linda história começou há mais de 100 anos atrás e hoje com muita alegria relembramos para mais uma vez confirmar que os lembrados estão vivos em nosso coração". (Catarina Simon)







 

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