O Programa “Mais Médicos”, do governo federal, tem tudo a ver com os médicos cubanos. Nada menos 11.456 médicos daquele país atuam em 3785 cidades, nas mais remotas regiões brasileiras, e com índice de credibilidade muito altos, como atestou a pesquisa feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cerca de 86% da população atendida pelos médicos afirmou que a qualidade de atendimento melhorou.
O governo de Fidel Castro apostou na formação de médicos, como um dos seus principais objetivos, já que havia apenas 6 mil médicos no país, dos quais metade fugiu para os Estados Unidos, na época da revolução. Resulta que hoje o país dispõe de 80 mil médicos, numa proporção de um para cada 160 habitantes. Essa estatística transformou os serviços médicos em um produto de exportação, através do Programa "Mision". Foi uma das soluções encontradas pelos irmãos Castro para ajudar na agonizante economia cubana e hoje se constitui na maior fonte de divisas para o país. O Programa envia médicos para 60 países e arrecada em torno de 6 bilhões de dólares anuais.
Médico usando a bicicleta para ir ao trabalho |
Somente do Brasil, o governo cubano já arrecadou 1,94 bilhão de reais, segundo dados do Ministério da Saúde. Na Venezuela, médicos cubanos, trocam seus serviços por 100 mil barris de petróleo por dia. Na África estão 4 mil desses profissionais. Qual seria a explicação para tantos médicos cubanos estarem dispostos a seguir em “Misión”- como eles dizem? Existem duas grandes motivações: a financeira e a possibilidade de fuga. O profissional recebe 10 a 20% do valor individual do contrato, conforme exige o custo de vida do país onde trabalha. O valor que ele conseguir economizar, pode ser enviado para a família, sem que o governo cobre as taxas habituais pelas remessas do exterior. Durante sua permanência no contrato, outro valor é depositado, pelo governo, no banco, como uma poupança da qual ele poderá dispor no seu retorno, o que, pela política atual, permitiria a reforma da casa ou a compra de um automóvel. Se ele abandonar o contrato, a poupança será confiscada. Os que têm como motivação a fuga, sabem que não poderão voltar ao país por 8 anos. Atualmente, o Equador com a concordância de Cuba, tem facilitado os encontros daqueles que fugiram, com suas famílias. Tendo recursos, a família recebe permissão para viajar até lá. Muitos fogem a partir dali, se o médico já tiver conquistado, em outro país, as condições de sobrevivência.
Judith e a filha Angélica |
Em Manzanillo, uma cidade à beira mar, no oriente do país, encontrei Judith Figueiredo, que trabalha como secretária. Seu drama familiar é um dos milhares que existem em Cuba. Ela está sendo vítima do Program “Misión”, pois seu marido, o médico Francisco José Álvares foi trabalhar na Venezuela e ali não se adaptou ao regime policial de controle dos médicos e, ajudado por um amigo, fugiu do país, refugiando-se na Colômbia. Depois, através do Equador, entrou nos Estados Unidos. O governo cubano, ao saber da fuga, imediatamente sequestrou os valores que eram depositados no banco para a família e que poderiam ser retirados somente após três anos. Já se passaram quatro anos. Judith conta que sua filha Angélica, de onze anos, todo o dia fala no pai e, a mãe, desesperada, não tem como confortá-la. A família vai ficar separada por oito anos. O marido não conseguiu revalidar seu diploma e trabalha como cirurgião assistente, apesar de ser um competente cirurgião.
O povo tem opiniões diferentes sobre o Programa "Mision". Se, por outro lado, o dinheiro que o médico cubano ganha e envia para a família é uma grande ajuda para a economia da casa, para reformar a habitação ou adquirir algum eletrodoméstico, por outro lado, longe da família por muito tempo, é comum arrumar outro parceiro ou parceira no país onde está. Os divórcios são uma realidade, desagregando famílias. Somente na Venezuela cerca de cinco mil médicos já abandonaram o Programa, casaram-se e muitos foram para os Estados Unidos, que possui um programa especial de concessão de visto de entrada para cubanos.
Posto de Saúde na periferia |
Outro problema é o abandono pelos médicos de seu trabalho habitual, muitos como médicos de família. Em Manicarágua, uma cidade do centro do país, um posto de saúde ficou sem o seu médico e a vaga teve que ser preenchida por uma enfermeira. Ali em cada quadra, há um posto de saúde, onde também reside o médico ou enfermeira. O titular percorre as casas da quadra, fazendo
um trabalho de prevenção a todos os habitantes ou encaminhando pacientes para hospitais. Também existe uma certa insatisfação pela saída dos médicos, pois aumenta a concentração de pacientes para cada médico, ocasionando esperas e um péssimo atendimento. Os estrangeiros não podem entrar nos hospitais gerais, mas, por religiosos que prestam assistência espiritual nesses locais, soube que atualmente a precariedade de atendimento lá se assemelha à situação brasileira, tanto pela falta de recursos materiais como pela ausência dos médicos que vieram em grande número para o Brasil. Os médicos em Cuba ganham em torno de 40 dólares mensais, ao passo que indo p
ara o exterior aumenta para 800 a 100 dólares, dependendo do país. Por isso, é comum ver um médio indo de bicicleta para o trabalho.
Portaria do Posto |
Enfermeiras indo ao trabalho de bicicleta |
Nos hospitais chamados de “altas especialidades”, a situação é diferente, porque além de receberem os doentes cubanos que já passaram pelo atendimento geral, recebem muitos pacientes estrangeiros que pagam em dólares pelos tratamentos disponibilizados. Enquanto isso, o governo de Cuba continua arrecadando divisas com o produto humano, como o produto de exportação de maior valor para o país. O Programa “Mision”, não exporta apenas médicos, mas também enfermeiros, engenheiros e arquitetos. É a exportação de serviços socialistas para o mundo capitalista.
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