quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Dissidentes começam a se organizar em Cuba


Há dissidentes em Cuba? Sim, são vários grupos de dissidentes, e o principal é a União Patriótica de Cuba (UNPACU), sediada em Santiago.
José Daniel o líder
 Foi fundada em 2011, por José Daniel Ferrer, um jovem que saiu das fileiras do Movimento Cristão de Libertação. No decorrer dos últimos anos, várias organizações se fundiram e decidiram agregar-se à UNPACU, como forma de fortalecerem-se contra o regime de Fidel Castro. Eles reivindicam a imediata liberdade dos presos políticos, os chamados prisioneiros de consciência.



O protesto em frente ao santuário

A UNPACU é uma organização pacífica, que luta contra as barbaridades cometidas pelo regime, ferindo os direitos fundamentais do ser humano. De modo geral, querem uma Cuba livre e justa. Para isso, produzem panfletos e audiovisuais, fazem caminhadas e os famosos protestos silenciosos, porque se protestarem com discursos ou cantos, serão presos. Além disso, organizam grupos dissidentes e realizam trabalhos sociais.
Caminhando fazendo gesto de L com os dedos

À esta organização, pertenceu um dissidente que ficou famoso no exterior. Chamava-se Wilman Villar Mendoza e realizou uma greve de fome,  por 50 dias, em 2012, que o levou à morte. Protestava por não haver recebido um juízo justo e pelas péssimas condições da prisão. Foi preso em 2011, por desacato à autoridade em uma marcha pacífica, e condenado a quatro anos de prisão.
O primeiro protesto que assisti e fotografei foi em Santa Clara, no dia 31 de agosto, domingo. As Damas de Blanco costumam ir, todos os domingos à missa e ali permanecem sentadas. Ao final da missa, o sacerdote as abençoa. Depois, em frente à Igreja de la Pastora, ficam eretas, em silêncio, por cinco minutos e depois se dispersam. Querem a liberdade  de seus maridos presos. São os chamados presos de consciência.
As Damas de Blanco em Santa Clara


O segundo protesto  foi em El Cobre, cidade vizinha a Santiago. No dia oito de setembro, segunda feira, assisti a uma manifestação de um grupo de 200 pessoas da UNPACU, em frente ao santuário de La Virgen de La Caridad. Era o dia da padroeira de Cuba. Eram 11 horas da manhã. Debaixo de um sol escaldante, os dissidentes, sob a organização do líder José Daniel Ferrer, reuniram-se nas escadarias do santuário. Permaneceram mudos, porém todos faziam um sinal em forma de L (Libertá) com os dedos das mãos. Ficaram sentados por 15 minutos, gesticulando para os presentes. Depois, levantaram-se e caminhando, seguiram por uma rua ao lado do santuário, batendo palmas ritmadas. Em seguida, marcharam, em silêncio, com os braços levantados e gesticulando, novamente fizeram o gesto de “Libertá” com os dedos, até se dispersarem. Este mesmo grupo, queimou no centro de Santiago, um outdoor do governo. Depois de 24 horas, o outdoor foi refeito.
As Damas dentro da igreja


Nestes últimos meses, tem aumentando o número de dissidentes e a UNPACU já possui mais de 10 mil adeptos, a maioria jovens. Também está aumentando a repressão policial, com detenções a toda hora. No dia da Padroeira de Cuba não houve detenções. Elas só ocorrem em locais onde não há a presença da população.
A vida dos líderes da UNPACU não é fácil. O líder Ferrer já ficou detido por sete anos e depois foi solto. Seguidamente prendem membros da organização. Em 2013, foram 5301 casos de detenção, sendo alguns libertados em poucos dias e outros retidos por mais tempo.
O outdoor reposto um dia depois de queimado

Apesar da presença de dissidentes em todo o país, dificilmente terão resultados positivos, pois a polícia de Cuba é uma das mais eficientes do mundo. Há uma organização popular através do CDR (Conselho de Defesa da Revolução), sediada em cada quadra das cidades, com pessoas que vigiam dia e noite cada cidadão, impossibilitando qualquer reação mais forte por parte do povo. Os informantes da polícia constituem um esquadrão e milhares de pessoas recebem salário para a delação de parentes e de vizinhos, o que gera um clima de insegurança que percebe-se em todas as onze cidades visitadas.

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