terça-feira, 14 de outubro de 2014

Em Cuba, economia a caminho do capitalismo



             Um dos passos da economia cubana para implantar uma economia capitalista num regime socialista é o chamado “cuentapropismo”, ou seja, permissão para o cubano trabalhar por conta própria, abrindo pequenos negócios ou participando de cooperativas não agropecuárias (CNA). Este é o caminho escolhido pelo presidente Raul Castro, desde o ano passado. De lá para cá, cerca de 471 mil trabalhadores optaram por ter um negócio próprio. Nos últimos três meses, a média mensal de novas inclusões foi de 8 mil. Isto significa uma mudança muito grande na economia, que até agora, era totalmente estatal, passando para um sistema capitalista de empresas próprias. Deste total, cerca de 69 % declararam que não tinham vínculo empregatício.
Lojinha vendendo sanduiches


             De fato, ao percorrer as ruas de qualquer cidade, observa-se que em muitas janelas de residências existem pequenos comércios, como venda de roupas usadas ou de pasteis, sanduíches e principalmente de sucos caseiros. São iniciativas legalizadas, pois o pequeno empresário paga imposto e, pode ter empregados. Também são acolhidos no regime de seguridade social. As principais empresas são de elaboração de alimentos de toda espécie, transporte de cargas e de passageiros, agentes de telecomunicação (venda de celulares) e produtor/vendedor de artigos artesanais. No transporte de passageiros, por exemplo, o caminhão que até bem pouco tempo era estatal passa a ser privado. A diferença está na placa do veículo. Se a placa começar com a letra P é sinal que é privado. Pode-se notar a diferença no cuidado com o veículo, com mais conforto,por exemplo, o assento pode ser estofado, ao contrário dos caminhões estatais cujo assentos são de tábua pura. Também nos pequenos restaurantes percebe-se que o privado tem mais iluminação, decoração, flores e opções no cardápio.Já as empresas de maior vulto, estão investindo na elaboração de polpas de frutas, purê de tomate e doces. Há uma diversidade de produção. Para estas, estão sendo criadas cooperativas não agropecuárias (CNA) que congregam trabalhadores que atuam nos mais diversos ramos, principalmente da gastronomia, turismo e elaboração de sucos. Também no ramo da construção civil, juntam-se profissionais de diversos ramos e constituem uma cooperativa para oferecer serviço e construção e reforma de casas. Aliás, é o ramo que mais cresce em Cuba, já que ogoverno passou a permitir a reforma de residências e edifícios.
Venda de alimentos

             Em um café, por exemplo, a Cafeteria Tropical, localizada entre a 12 e a 21, no bairro Vedado, há uma oferta de 23 produtos diferentes e não apenas café. São sucos, frituras, tostados de banana e doces. Acrescentam-se produtos provenientes de mini-indústrias artesanais, que são os fornecedores, dentro de um regime capitalista. Também oferecem uma parrillada para vender na hora do almoço. Com isso, o salário dos empregados passou de 250 pesos para 600 pesos. O Restaurante Varsóvia, em Havana, de estatal se transformou numa cooperativa dos antigos empregados. Além de oferecerem almoço, à noite o restaurante transforma-se em uma pista de dança, ou de festas de casamento. Tudo isso, com uma limpeza impecável e empregados uniformizados. Até julho deste ano, as cooperativas não agropecuárias (CNA) somavam 240 em todo o país, destacando-se comércio, serviços e construção civil. Existem também cooperativas agropecuárias.
          Segundo a lei 305, artigo 2, “o objetivo geral é a produção de bens e a prestação de serviços mediante uma gestão coletiva para a satisfação do interesse geral e dos sócios. Os gastos são cobrados com as entradas e elas respondem por suas obrigações e do seu patrimônio. Pagam os impostos estabelecidos e distribuem os lucros entre os sócios, na proporção do trabalho feito por cada um”.
Os cocotáxis são privados

           A subdiretora de Emprego do Ministério do Trabalho, Idalmys Mendive, disse que com esta independência e liberdade de criar empresa própria, ainda não existe um controle total sobre as empresas ilegais. Este, por enquanto é o problema, pois em toda parte surgem vendedores ambulantes, oferecendo produtos alimentícios e bugigangas contrabandeadas.


As carroças de passageiros são privadas

            Este caminho, apesar de ninguém admitir que seja um passo capitalista no velho sistema socialista, demonstra o começo da derrocada do sistema econômico vigente que não suporta mais ser o pai de todos. O desabastecimento reinante há anos mostra a decadência do modelo antigo, e a urgência de uma transformação, ainda que em pequenos passos. Eu acredito que seguirão o modelo chinês para continuar sendo um país socialista, com um partido único e a continuidade da ditadura dos irmãos Castro, com uma economia capitalista.

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