No
século passado, muitos foram os Simon que se destacaram no ramo da educação.
Dentro de suas limitações, tais professores se superavam com suas estratégias,
procurando minimizar a falta de livros, de estruturas e de métodos de ensino. A
criatividade aflorava em cada sala de aula, pois, muitas vezes, eram
professores de turmas do primeiro ao quinto ano primário, na mesma hora e na
mesma sala de aula, chegando a ter 55 alunos.
Um deles foi o professor José Simon, na região de
Sarandi. José era filho de Miguel Simon Jr. e Ana Maria Liell. Nasceu no dia 24
de fevereiro de 1908, em Campestre pertencendo, na época, ao município de
Montenegro. Depois dos seus estudos em Bom Princípio transferiu-se, como os
demais irmãos, para as Colônias Novas, mais precisamente para a Linha MANEADOR
MIRIM, no interior do município de Sarandi que, na época pertencia ao município
de Passo Fundo. A pedido desta comunidade internou-se, ao longo de dois anos,
no “Lehrer Seminar” (Escola Normal Rural) de Hamburgo, Velho no prédio
que é hoje a Escola Alberto Pasqualini. Retornou ao Maneador (Sarandi) iniciando
uma carreira de 30 anos, como professor numa escolinha de madeira para a qual
acorria toda a infância das Linhas Mirim e Maneador. Presidia os cultos para a
comunidade, a organização de festas religiosas e sociais. Dirigiu durante 40
anos, o coral da comunidade e inclusive presidia até os enterros.
No
âmbito familiar, casou com Lucila Klein Talheimer, no dia em 05 de outubro de
1935. Deste matrimônio teve seis filhos. Ao se aposentar administrou, junto com
a sua esposa, a “venda” de Maneador. Desta, passou para a mesma atividade
em Não Me Toque, onde passaram a residir, ele e os seus filhos, exercendo a
função de comerciante. Escolheram também a cidade devido ao atendimento
hospitalar e ao serviço médico necessários para a sua idade e saúde debilitada
pela dura vida numa fronteira agrícola. Foi chamado de volta para Sarandi para
receber o mérito pela sua direção no Coral e o título de Cidadão do município.
Faleceu no dia 24 de janeiro de 1992. Depois disto, a cidade de Sarandi deu o
seu nome à uma artéria da cidade.
Prof. José Simon |
A Escolinha Rural do Maneador - encarrapitada sobre
uma coxilha vermelha ao lado da igrejinha e Campo Santo - apontava para o Norte
Geográfico. Ela significava também um norte e uma resistência diuturna na
espera de melhores dias, tanto para os seus estudantes, para seus atarefados
pais e para o professor atento e sempre presente. Não eram dias melhores para a
escola em si mesma, pois não os teve, mas para as sucessivas levas de seus
estudantes e a certeza para os pais de um dever cumprido com a nova geração que
deveria sucedê-los.
O professor com seus alunos em 1933
|
São muitos os detalhes
interessantes da vida de um professor e de uma escola rural. Estudantes que se perfilavam na frente
de sua única e pequena porta da escola para cantar o hino nacional, para
galgar, em seguida, a sua escadinha de cinco degraus de madeira, para iniciar
as suas atividades de cada dia. Vestiam as suas blusas brancas, ostentando as
letras EM bordadas em azul. A sua imagem se compunha dos cabelos e faces
louras, com olhares tímidos e encabulados. As suas falas não seguiam nem
gramática portuguesa nem a germânica. Falavam um alemão arcaico que era objeto
de escárnio da parte dos recém vindos de Berlim. Venciam, a pé, distâncias de
quatro a cinco Km, carregando as suas sacolas de pano com a lousa de pedra
ardósia, parco material escolar e sua merenda, antes de se perfilarem neste
cerimonial da porta da escola.
O ritual continuava no
interior com as recitações das rezas tradicionais da comunidade agora em língua
nacional. As rezas em vernáculo culto, propiciava-lhes o processo de comparação
dos vocábulos da língua portuguesa com as mesmas rezas realizadas no âmbito
doméstico na sua língua materna e gerava o hábito da gradativa incorporação e
aquisição do idioma. Findas estas rezas, era ocasião de mostrar ao
professor os exercícios feitos, nos seus domicílios, dos dois lados da lousa de
ardósia, ou “pedra” - segundo a
sua fala. Exercícios que eles haviam escolhido conforme os seus interesses e
repertórios. A seguir, enquanto o professor se ocupava com o ensino das classes
mais adiantadas das disciplinas do currículo determinado pelo município em
língua nacional, ele destacava os alunos da 4ª série para tomar as lições da
cartilha “Queres Ler” dos
calouros da 1º série. Alguns anos, os alunos eram em torno de 55. Para
se comunicar com os seus estudantes, que apenas conheciam o idioma alemão
materno, ele precisava encontrar estratégicas didáticas e culturais para
introduzi-los na língua pátria. Sob severa vigilância ao longo do Estado Novo,
ele era impedido de qualquer comunicação na língua materna dos seus alunos..
O
momento mais esperado era o início do “recreio”,
ou intervalo de meia hora e destinado à merenda preparada pelas mães e que cada
um trazia de casa. Normalmente esta merenda era trocada num comércio alimentar
entre as crianças que certamente seguiam o impulso natural da complementação
daquela que lhes era habitual no seu lar.
A
manhã terminava com a recitação, em voz alta e coletiva, das diversas tabuadas.
Encerravam com as rezas do Ângelus e as respectivas badaladas do sino da
capela. As famílias, com estas badaladas, também sabiam, e esperavam o retorno
dos escolares para os seus lares para servir a refeição principal do dia.
Nestas múltiplas idas e voltas das crianças da escola não houve registro de
acidente ao longo dos 30 anos do magistério do Prof. Simon.
Família de José Simon |
José
cumpriu religiosamente sua tarefa de professor e ao mesmo tempo, era pai, conselheiro,
amigo, enfermeiro, regente de coral, agricultor, comerciante, incentivador de
esportes, mas principalmente inculcou o caráter em cada um de seus alunos,
formando gerações de alunos que hoje ocupam funções importantes na sociedade de
diversos municípios. Sem dúvida, um dos mais ilustres Simon entre os nossos
ascendentes. (Compilado de Círio Simon)
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