Nos idos de 1920 a 30, Itá (SC) começou a receber os primeiros imigrantes que enfrentaram as feras e domaram a selva virgem, nas barrancas do Rio Uruguai. Eram tempos difíceis, porém a força e o arrojo do ser humano eram mais fortes que a mãe-natureza, que por milhões de anos manteve-se intacta.
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A balsa era formada por toras, e juntadas com cipós |
Os Simon, que na época haviam se espalhado pelo Planalto Médio e Campos de Cima da Serra, também foram tentados a desbravar as matas do oeste catarinense. Um deles, João Simon, foi um dos pioneiros de Itá e o primeiro madeireiro exportador de toras e balseiro do Rio Uruguai.
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A família de João Simon com atora serrada manualmente |
A empresa colonizadora era a Companhia Luce que atraia colonos, prometendo mundos e fundos. Numa dessas levas, João Simon acompanhado dos filhos Leopoldo e Otto foram levados até a Estação Barros (hoje Gaurama) e dali até a localidade de Itá recém implantada nas barrancas do Rio Uruguai, em um pequeno ônibus, cujo teto era de lona. Após um dia de viagem por caminhos íngremes chegava-se até as margens do Rio Uruguai e dali de barco eram transportados para o lado catarinense. Lá chegando, João Simon e família adquiriram um lote de terra ( no mapa), nas barrancas do Rio Uruguai. Como foi escolhido no mapa não sabiam que as terras da colônia eram muito acidentadas, formadas por peraus e cerros, bem à margem do rio, abrigando uma selva virgem e quase impenetrável, exuberante, intocável até então.
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As toras eram arrastadas por juntas de bois até o Rio Uruguai |
João e os filhos porém não se intimidaram e não desesperaram. Com criatividade que sempre caracterizou os Simon viram logo que o lote de terra pouco servia para a agricultura e a única riqueza eram as árvores seculares. Veio, então a ideia de desmatar e vender as toras para os argentinos. Foi o começo das famosas balsas de toras que diariamente cruzavam as águas do Rio Uruguai, em direção ao mar.
O testemunho de Frederico Maraczanski, um dentista prático da época, foi importante para o resgate dos pioneiros balseiros do Rio Uruguai. Entre eles, João Simon e o filho Leopoldo o mais famoso de todos. De Itá a São Borja eram 950 kms de via fluvial. Pelo percurso havia 81 ilhas que deveriam ser desviadas pela balsa. João e seus filhos serravam as árvores com serrote manual e depois as toras eram puxadas com carroças de bois até as margens do Rio e ali eram amarradas com cipós. Cada balsa continha em torno de 80 a 120 toras. Esperava-se a cheia do Rio Uruguai para a partida da balsa. O vaqueano (capitão da balsa) tinha que estar atento para o desvio das 81 ilhas, pois o percurso era vencido de Itá a São Borja em quatro dias e quatro noites sem parar. Na balsa iam aproximadamente 20 peões que ajudavam o vaqueano na tarefa de pilotá-la. Praticamente o vaqueano não dormia nestes quatro dias e noites, pois tinha que ficar atento e conhecer todas as ilhas, com seus perigos. Quanto mais viagens, mais prática tinha o vaqueano. Conta Frederico que o filho Leopoldo fez 74 viagens, sendo 63 como vaqueano e 11 como peão. Leopoldo conhecia tão bem o Rio Uruguai que mesmo em período de mau tempo e cerração, ele conduzia com tranquilidade a balsa. Cada viagem era uma aventura, um risco, um desafio, que forjou um homem de ação cujos descendentes hoje povoam as terras catarinenses, um verdadeiro orgulho para as próximas gerações.![]() |
Início do desmatamento da vila Itá em 1920 |