sexta-feira, 30 de junho de 2017

PRIMEIRO ESTATUTO DA AFSA EM 1978


 O entusiasmo dos membros da  Associação da Família Simon e Afins era muito grande durante o ano de sua fundação. Havia necessidade de ser elaborado o Estatuto e assim foi feito. Em 7 de maio de 1978, celebrou-se o segundo encontro dos Simon, no Colégio Anchieta, em Porto Alegre, com a participação de mais de 120 membros. Esteve presente toda a diretoria liderada por Camilo Simon. O advogado João Amadeo Simon elaborou os estatutos. Depois de emendas de Mário Simon, Orlando Simon, Homero Simon, Nelson Oscar de Souza e outros, os estatutos foram aprovados por unanimidade. Ei-lo:
Sentado, o presidente de Honra, Lothario Simon;
em pé à direita, João Amadeo Simon, autor dos Estatutos
 
Art. 1º - A entidade terá a denominação de Associação da Família Simon e Afins ( AFSA) com sede na Av. Taquara 116 ap. 203, em Porto Alegre- RS, com prazo de duração indeterminada.

Art. 2º - A Associação tem por finalidade:


a) - Congregar os descendentes e colaterais de Mathias Simon Sênior, emigrado ao Brasil em 8 de fevereiro de 1829, e dos parentes afins.
b) - Pesquisar continuamente a árvore genealógica da Família Simon, em linha reta ascendente e descendente;
c) - Proporcionar a descoberta e prestar apoio a todo os valores existentes na Família;
d) -  Facilitar o intercâmbio cultural entre os Associados
e) - Pesquisar as tradições da Família e avivar a atividade cultural que envolve os Simon.
 

DOS SÓCIOS
Art. 3º - Todos os descendentes, afins e colaterais de MATHIAS SIMON SENIOR são considerados sócios natos.

DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES
Chegada dos parentes ao Encontro
Art. 4º - Os sócios contribuintes em dia com o pagamento das anuidades terão direito a votar e serem votados, bem como receberão as publicações da Associação da Família Simon e Afins. Constitui obrigação do sócio manter o bom nome familiar e colaborar para a manutenção dos serviços genealógicos e publicações mediante contribuições a serem estabelecidas por Assembleia Geral

DO PATRIMÔNIO SOCIAL
Art.5 - O patrimônio social constituir-se-á de bens móveis e imóveis adquiridos através de  doações, legados e outras fontes de recursos financeiros.

DA ADMINISTRAÇÃO
Art. 6º - A administração será coordenada por uma diretoria eleita pela Assembleia Geral Ordinária, para um período de 02 (anos) anos, podendo ser reeleita uma vez, por igual período. Será composta pelos seguintes membros:
a) - Presidente: representará a Associação ativa e passivamente, judicial ou extrajudicialmente e podendo nomear assessores para tarefas específicas.
b) -- Vice-Presidente: colaborará com o Presidente na Administração, substituindo-o em seus impedimentos;
c) Primeiro Secretário: Será o responsável pela correspondência, expedientes em geral e substituirá o vice-presidente em seus impedimentos.
d) - Segundo Secretário: colaborará com o 1° secretário e substituirá em seus impedimentos;
e) -Tesoureiro: competirá a guarda e movimentação do dinheiro e valores mobiliários, assinando cheques e títulos de crédito, juntamente com o presidente ou Vice-presidente;

Homero Simon, vice-presidente

 

DA ASSEMBLEIA GERAL
Art. 7º – A Assembleia Geral é o órgão soberano da Associação. Haverá uma Assembleia Geral ordinária, anualmente, no primeiro domingo de maio, a ser convocada pela diretoria com o fim de: 
a) - Apreciar e deliberar sobre os relatórios da Diretoria Executiva;
b) -  Eleger e empossar, em anos alternados, os novos membros eleitos da Diretoria;
c) - Outros assuntos. As Assembleias Gerais podem ser convocadas pela diretoria ou pelo mínimo de 50 sócios.

DA REFORMA DO ESTATUTO
Art. 8º – O presente Estatuto poderá ser reformado pela Assembleia Geral, com o quórum da maioria absoluta dos presentes.

RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
Art.9º - Os associados não respondem subsidiariamente pelas obrigações da Associação.

DA DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO
Art.10º - A Associação será dissolvida e liquidada se não lograr atingir os seus fins. Nesse caso, serão eleitos por Assembleia Geral, bem como, deliberar-se-á a respeito da destinação de seu patrimônio à entidade semelhante.se decidirá à respeito da destinação de seu patrimônio, à entidade semelhante.
 
Ao meio, Maria Simon, esposa de Pedro Emanuel
 e Mariazinha (à direita) filha do pesquisador
CARGOS GRATUITOS
 
Art. 11º - Todo os cargos administrativos serão exercidos gratuitamente.

NOMEAÇÃO DE AGENTES
Art.12º – A Associação poderá nomear agentes em qualquer parte do mundo a fim de colaborar para os fins societários.

DO REGISTRO
Art. 13 - O presente Estatuto, depois de aprovado por Assembleia Geral da Constituição, deverá ser registrado no Cartório de Registro Especial, para fins de direito.

 Porto Alegre 7 de maio de 1978.
(Seguem as assinaturas dos sócios fundadores)
 
Na próxima edição, as festas nacionais dos Simon

terça-feira, 27 de junho de 2017

FUNDAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DA FAMÍLIA SIMON E AFINS


Após receber as fichas da pesquisa efetuada por Pedro Emanuel Simon em 1976, durante quase dois anos fui colocando em ordem, família por família. Ainda assim restaram umas 100 fichas desconhecidas, pois Pedro Emanuel, ao mesmo tempo, fazia outras pesquisas genealógicas. Era necessário dividir esta alegria com mais membros da família Simon. Todas elas tinham direito de saber sua origem, suas raízes. Isto era pacífico para mim. Por isso, elaborei um quadro, de dois metros de altura por um metro de largura e ali escrevi, à mão, todas as famílias, a partir de Mathias Simon, com seus 10 filhos. Foi a única maneira que idealizei para pesquisar uma família, quando era abordado por outros parentes. Ali foram colocados os netos e bisnetos, dentro dos troncos familiares.
Depois de solicitar sugestões para vários parentes de Porto Alegre e interior, fixei a data de 16 de outubro de 1977 para a realização do 1° Encontro dos Simon no Brasil no salão paroquial da  igreja São Pedro. Os parentes em número de 11, foram chegando e todos convergiam para o quadro para saber o grau de parentesco. Eram parentes de Pelotas, Montenegro, Tapera, Carazinho, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Guaiba, Canoas, Caxias do Sul  entre outras cidades. Foi emoção e mais emoção. Muitos choravam. Houve reconciliações de irmãos e de primos. Mário Simon de Santo Ângelo sugeriu a formação de uma associação para congregar todos os Simon do Brasil. O apoio foi unânime. Vários parentes falaram como Anildo Sarturi, Nenê Muller, Homero Carlos Simon, Amadeo Simon, Lothar Simon. Em seguida foi sugerida a nomeação de uma diretoria, sendo assim escolhida: presidente: Camilo Simon; vice-presidente: Homero Carlos Simon; Secretário: Anildo Simon Sarturi; 2° Secretário: Amadeo Simon; Tesoureiro: Aurélio Simon. Presidente de Honra: Lothário Simon. filho de Pedro Emanuel Simon.

Jornalista Camilo falando, pela primeira vez, aos parentes, em 1977
 O presidente de Honra, Lothário Simon descreveu a história do imigrante alemão e suas peripécias até chegar a São Leopoldo. O vice-presidente Homero Simon falou sobre o sentido da história e o sentido de uma família estar unida e pesquisas sobre suas origens. E o presidente Camilo Simon revelou que ainda naquele ano de 1977 sairia o primeiro número do Jornal dos Simon. O  jornal sempre foi um sonho do pesquisador Pedro Emanuel Simon. Em 25 de novembro de 1960, escreveu para o parente Afonso Simon, de Quilombo, o seguinte: “um terceiro primo teu, chamado Libório Simon, residente em Porto Alegre, está muito interessado na genealogia. Ajudou a pagar as primeiras despesas com impressos e se ofereceu para ajudar com mais dinheiro para publicar um jornalzinho (boletim) da nossa família e me disse uma vez, que achava que um dia, nós teríamos o nosso centro (escritório) que tratasse dos nossos assuntos que interessam a toda a parentela “Simon”. Eu acho tudo isso ótimo e se conseguirmos estreitar ainda mais os laços entre os co-parentes, isto será realidade”. Posteriormente, o parente Mário de Simon, de Santo Ângelo, enviou uma carta sugerindo um jornal para toda a família.

110 parentes estiveram presentes ao 1° Encontro dos Simon
A mídia local destacou o evento com diversas reportagens, lembrando que, pela primeira vez, uma família tinha se reunido para estreitar os laços consanguíneos.
Os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Jornal do Comércio, Folha da Manhã, Gazeta Mercantil e até o Deutsche Zeitung, de São Paulo editado em língua alemã, publicaram matéria. Estava nascendo uma grande entidade, fruto de um sonho e de muito trabalho que iria reunir os Simon de todo o Brasil, Argentina e Paraguai.
Na próxima edição, o primeiro Estatuto da Associação da Família Simon e Afins.


Parentes, ansiosos, consultaram o quadro

 
 


sexta-feira, 23 de junho de 2017

GENEALOGIA DOS SIMON, UM TESOURO


              Após o falecimento de Pedro Emanuel Simon em 1966, por diversas vezes visitei a tia Maria Ferreira da Silva. Não havia esquecido o trabalho de pesquisa genealógica feita pelo seu esposo, Pedro Emanuel. Sempre achei que deveria ter uma continuidade e eu como sobrinho deveria prosseguir com os dados genealógicos. As fichas que havia visto na residência de Emanuel vinham-me à lembrança, a todo momento. Decidi, então, fazer uma visita especial à esposa de Pedro Emanuel. Como sempre, fui bem recebido pela tia Maria, inclusive tomamos um chá, em sua residência. Entre uma conversa e outra, faltava coragem para fazer o pedido: ter acesso aos dados do fichário genealógico. Depois de muita conversa sobre as filhas e o filho, em certo momento criei coragem e disse:
Camilo Simon apresentando o quadro genealógico, pela primeira vez, em 1977.
                  - Tia, olha, vim aqui para fazer um pedido que certamente o tio Emanuel gostaria. Creio que todo o esforço, e abnegação dele em pesquisar a árvore genealógica da família não deverá cair no esquecimento. Por isso, proponho que a senhora meu autorize a ter acesso ao trabalho.  Pretendo levar o fichário e dar continuidade às pesquisas.
Modelo de ficha usada por Pedro Emanuel . Está é de Mathias Simon
         Fui interrompido pela tia que disse:
        - Olha, Camilo, você não sabe o sacrifício que passamos por causa dessa paixão que o teu tio tinha pela família. Padecemos muito, inclusive passamos necessidades, pois teu tio viajava e deixava a família, às vezes, por um mês. Minhas recordações não são boas para esta época, por isso, não permito que tenhas acesso a este trabalho. Todas as pesquisas vão ficar por aqui e não sei o que vou fazer de todos os arquivos de cartas, questionários e fichas.
Foi um banho de água fria que recebi da tia, que ainda sofria muito com o falecimento do marido, apesar de ter passado alguns meses. Decidi esperar, e esta espera pacienciosa levou dez anos, onde se sucederam os sonhos de um dia obter acesso à pesquisa do tio. Somente no verão de 1976, portanto dez anos depois do falecimento do tio, que me animei a falar com a tia sobre o mesmo assunto. Em todas as visitas que fiz, nada se falou. Mas naquele verão, encorajei-me e novamente fiz o pedido, secamente:
           -Então tia, volto a falar sobre o pedido que fiz há dez anos atrás sobre as fichas genealógicas...
            Novamente interrompeu-me e disse:
           -Olha, Camilo, vá a cidade de Esteio na casa de meu filho Saul e recolha todos os arquivos e fichas que estão numa gaveta de um cômodo da sala. Vá imediatamente pois os arquivos estão atrapalhando a organização da casa e temo pelo futuro do trabalho.
O professor Pedro Emanuel com seus alunos em Nova Palma em 1918
           Que alívio. No mesmo dia, de posse do endereço, dirigi-me a Esteio na residência do filho, Saul e ali obtive permissão para recolher tudo o que havia sobre as pesquisas genealógicas. Lotei o porta-mala do carro, pois as fichas estavam espalhadas por diversos gavetões. Cheguei em casa, muito feliz por ter em mãos este tesouro. Levei quase dois anos para ordenar o fichário. Foram madrugadas e madrugadas pesquisando a linha genealógica de todos os descendentes de Mathias Simon, com seus dez filhos, netos e bisnetos. Foram milhares de fichas analisadas e catalogadas, uma a uma e por fim decidi que era necessário fazer um quadro genealógico para poder entender os milhares de nomes pesquisados, de acordo com suas raízes ancestrais. Havia achado um tesouro inestimável da família Simon e que era necessário compartilhá-lo. Ali descobri que eu era descendente de um imigrante alemão, Mathias Simon que veio ao Brasil em 1829, junto com sua família, estabelecendo-se no sul do Brasil, precisamente na localidade de São José do Hortêncio, junto à Capela do Rosário, num lugar denominado Linha Nova Baixa. Fiquei muito feliz, pois faço parte de uma família cujo tronco ultrapassa séculos e todos seus descendentes merecem e tem o direito em saber suas raízes.
               Na próxima edição, a fundação da Associação da Família Simon e Afins

segunda-feira, 19 de junho de 2017

ACIDENTE TIRA A VIDA DE PEDRO EMANUEL


Depois da primeira visita ao tio Pedro Emanuel, fui ainda, outras vezes, conversar com o pesquisador e cada vez mais aumentava meu ardor pela causa genealógica.
               A 13 de outubro de 1966 fiquei sabendo pelo Jornal do Dia, que Pedro Emanuel fora vítima de um grave acidente nas ruas de Porto Alegre. Ao atravessar a avenida Protásio Alves, no bairro Petrópolis, foi colhido por um automóvel em uma curva da avenida, vindo a falecer. O jornal marcava a hora do velório e sepultamento. Imediatamente embarquei num ônibus e participei do enterro. Ali conheci superficialmente os filhos e netos, bem como os irmãos de Pedro Emanuel. Foi o fim de uma longa jornada exitosa deste tio apaixonado pela família. A ele devemos a história passada de cada membro da família Simon, uma história cheia de detalhes, de datas, de vidas. A ele devemos a descoberta desta longa história de nossos antepassados, que vem enriquecer e dar sentido às nossas vidas.
Pedro Emanuel e sua esposa Regina em 1905
Aos poucos, aproximei-me dos primos e primas, de modo especial com as filha, Paula e Mariazinha. Fui conhecendo o perfil de Pedro Emanuel. Seu nascimento foi na Casa dos Simon na Vila Nova Baixa, em frente à Capela do Rosário, onde residiam seus pais, José Simon e Catharina Steffens. Mathias Simon Júnior, seu avô, veio a falecer em 1875. Seu pai veio a falecer em 1917 na Capela do Rosário e sua mãe em 1948, em Tapera. Em 1909, casou com Regina Breitenbach na localidade de Feliz. O casal teve sete filhos. O primeiro deles foi Pedro Emanuel nascido em 2 de fevereiro de 1888 e falecido em 1966 em Porto Alegre.  Depois, nasceram Maria Octavilina, Agostinho Lotário Simon, Maria Cordélia Simon, André José Simon, João Amadeu Simon e Maria Teresa Simon. Com a segunda  esposa, Maria Ferreira da Silva teve mais três filhos: Saul da Silva Simon, Paula da Silva Simon e Maria da Silva Simon.

Pedro Emanuel era inicialmente cirurgião dentista e como tal residiu em diversas localidades do interior do Estado.  Primeiro foi em São Sebastião do Cai, onde nasceu a filha Maria Octavilina. Em seguida, foi para Casca onde nasceu o filho Agostinho Lothário. Depois voltou a São Sebastião do Cai onde nasceu Maria Cordélia. Na localidade de Corvo, no interior de Estrela, nasceu o filho André José. Já o filho João Amadeu nasceu em Roca Sales. Depois foi para a vila Arroio do Meio onde nasceu Maria Tereza. Pedro Emanuel com a esposa Maria viveu em Cruz alta onde nasceu o filho Saul. Depois transladou-se ainda para Três de Maio e Porto Alegre. Ali nasceu a filha Paula. E por último, a filha Maria nasceu em Guaíba.
 
Dona Maria, segunda esposa de Pedro Emanuel
Seus últimos anos de vida foram em Porto Alegre, como funcionário público municipal, além de exercer a profissão de dentista em sua residência na avenida Bagé 484. Igualmente Pedro Emanuel foi professor de Esperanto. Vamos deixar que sua filha Paula trace o perfil do pai, através de depoimento por escrito em 1983, no Jornal do Simon N. 8. Assim o descreveu a filha Paula: “ Como ele era? Bom. É a primeira qualidade que me vem à mente; honesto com profundo senso de propriedade e justiça. Papai possuía um arraigado espírito de família num sentido amplo da palavra. Nunca um parente chegou à nossa porta que não a encontrasse aberta. Sempre que os parentes que vinham do interior para uma visita, para uma consulta médica, para um curso ou outro motivo, sabiam que a casa do tio Emanuel estaria sempre à disposição. Quando isto acontecia, ele ficava feliz conversando em alemão, com o parente, relembrando fatos, procurando saber notícias de todos os outros parentes que estavam longe. Os serões são um caso à parte. Papai como todo o Simon possuía o dom natural da música. Tocava diversos instrumentos, como órgão, violino, violão, acordeón e instrumentos de sopro. Sabia cantar e organizava grupos de cantos e coral e regia com imenso prazer. Ensinava os filhos a tocar e cantar e gostar de música desde a infância. Lembro de uma época que ele morava em Guaíba, lá por 1945. Ele tocava órgão na igreja e tinha um coro a quatro vozes, que era o orgulho da pequena paróquia. Papai também compunha música e fazia arranjos instrumentais. Papai também tinha uma visão bastante atualizada do mundo, para uma pessoa nascida em 1888. Aceitava as mudanças e procurava manter-se atualizado. Mantinha correspondência em Esperanto com diversos amigos pelo mundo. Outro detalhe: jamais nos bateu. Nenhuma palmada sequer. Jamais nos infringiu castigos temporais e também não dava “ordens”. Ele respeitava a individualidade de cada filho e quando queria alguma coisa pedia “por favor”. Ele sempre nos chamava para ajudar em seus afazeres. Nos sentíamos orgulhosos ao ajuda-lo por exemplo a confeccionar uma prótese dentária no consultório; a virar a terra e preparar um canteiro de alfaces. Esta era sua maneira particular de praticar a Teoria de Gestalt, hoje tão difundida: “ Aprender fazendo”.
Pedro Emanuel com a banda formada pelos filhos em 1918
 
A última filha, Maria da Silva Simon também relatou alguns aspectos da vida do pai. Depois de recordar que o pai tocava inúmeros instrumentos musicais, disse: “Lembro que o papai contava que havia formado um conjunto musical com os filhos do primeiro casamento. Não sei que instrumento que cada um tocava, mas sei que o professor era o próprio papai. Também ele se interessava muito por botânica e pesquisou muito sobre plantas medicinais. Lembro que cada vez que recebíamos a visita do Pe. Balduino Rambo, primo em segundo grau, falava-se muito sobre as plantas medicinais”. Maria também relatou que o pai sofria muito com as dores das filhas, Thereza e Maria Octavilina. Quando estavam desamparadas, nossa família as acolhia. Maria lembra também do sentimento do pai e do seu sonho de ver todos os parentes reunidos como amigos e sem divisões. Lembra também de suas pesquisas genealógicas, feitas ora através do correio, com questionários aos parentes, ora em viagens que às vezes duravam um mês. Outra lembrança é sua pesquisa junto à Cúria Metropolitana para encontrar os parentes.
Na próxima edição,  a descoberta: somos mais de vinte mil descendentes de Mathias

quinta-feira, 15 de junho de 2017

PRIMEIRO ENCONTRO COM PEDRO EMANUEL SIMON



Pedro Emanuel com um broche do movimento esperantista na lapela
família como o tio
Inverno de 1964.  O Brasil fervia com o golpe militar de 31 de março. Tinha então 21 anos. Lembro bem. Era um dia frio e chuvoso. De posse do endereço, aproximei-me de uma casa situada na Avenida Bagé 484, no Bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Ali era a residência de Pedro Emanuel Simon. Tudo o que sabia: Pedro era o irmão mais velho do meu pai João Alfredo Simon. Mais: que era dentista de profissão. Estava meio nervoso, pois não tinha nenhuma referência a mais deste tio que era conhecido pela minha Emanuel.
Abri o portão e bati na campainha. Logo a porta foi aberta e eis que aparece a figura simpática de um senhor, meio careca, de óculos, meio gordo, com muita semelhança com meu pai. Deu-me um abraço e conduziu-me a uma sala e, logo começou a conversar perguntando sobre meu pai e minha família. Disse que eu era bem-vindo em sua casa e que ficasse à vontade como se sua casa fosse a minha. De voz mansa, Pedro Emanuel logo revelou sua paixão de vida: a montagem de uma árvore genealógica dos Simon no Brasil. Falando com entusiasmo, começou a discorrer sobre suas descobertas em suas pesquisas na Cúria Metropolitana de Porto Alegre, em cemitérios e em visitas a parentes no interior do Estado. Sempre buscando montar o quebra-cabeças das centenas de família Simon. Em sua euforia, começou a contar-me a história da família começando pelo alemão Mathias Simon, seus dez filhos, e a imensa descendência de cada um. Mostrou-me sua vasta correspondência através de um questionário impresso com perguntas em português e alemão que enviou aos Simon do interior do Estado. Foram centenas de cartas com suas respostas. Eu estava delirando. De uma hora para outra, descobrira que eu fazia parte de uma imensa família que ultrapassava os umbrais de minha família e dos séculos. Ali, descobri que eu era um homem do planeta terra, com imensas e profundas raízes na Alemanha e com histórias mirabolantes. Tio Pedro Emanuel não parava de falar. “O imigrante alemão Mathias Simon foi soldado de Napoleão Bonaparte, por sete anos, e participou de muitas guerras, as chamadas guerras napoleônicas na Península Ibérica e depois em 1812, na invasão russa, com mais de 300 mil soldados, com perdas fantásticas de milhares de soldados mortos. Mathias foi um do 8.000 soldados sobreviventes, que voltou, ferido, para sua terra natal, a cidade de Hermeskeil , na Alemanha. Como estudante de história, eu estava deslumbrado com tamanha história.


Pedro Emanuel (o primeiro à esquerda) com um grupo de cantores

 
Anoitecia. Pedro Emanuel continuava a revelar suas descobertas familiares. Sentado em uma cadeira de balanço, em certos momentos levantava, tal o ardor da narração para um estudante que nada sabia deste passado de glórias, de coragem e destemor dos meus antepassados. E abrindo um armário, tirou milhares de fichas das famílias pesquisadas. E procurou a ficha da minha família, ou seja, de João Alfredo Simon e lá estava eu como nono filho do pai João Alfredo, com data e local de nascimento. Tudo certinho. Assim como dos demais irmãos meus.
Eu estava êxtase, pois de repente abriu-se em minha mente um novo horizonte, sem fronteiras, sem obstáculos, sentindo-me um homem valente, orgulhoso e corajoso por pertencer a esta grande família que atravessou séculos para definitivamente instalar-se em solo brasileiro e gaúcho.
Em seguida, convidou-me para jantar e apresentou-me sua simpática esposa, a tia Maria Ferreira. Durante o jantar, Pedro Emanuel não parou de conversar. E revelou-me outra face de sua intensa vida cultural. Era também professor de esperanto, esta língua universal que atrai adeptos no mundo todo. Deu-me um pequeno opúsculo sobre a língua e entusiasmou-me para aprende-la. Ensinou-me a cantar o canto religioso “Mi estas ce la patrin”, ou seja, “Com minha mãe estarei”. Pedro Emanuel cantava com todos os pulmões e ali percebi que ele tinha uma voz maviosa. Antes das despedidas mostrou-me sua sala de dentista, bem como fotos dos filhos e filhas. Foi uma tarde noite muito proveitosa. Despedi-me com um abraço, prometendo voltar para usufruir de sua cultura e das suas pesquisas genealógicas, convencido que tinha muito a aprender. Era o começo de uma longa jornada que se estende até os dias de hoje.
Na próxima edição, a morte de Pedro Emanuel Simon em Porto Alegre.
 
 

terça-feira, 13 de junho de 2017

PRIMEIROS ANOS DA FAMÍLIA SIMON NO BRASIL


 


Chegada de Mathias e família ao lote demarcado
 Pintor: Círio Simon
Pouco sabemos dos primeiros anos de trabalho da família Simon na Capela do Rosário, no interior de São José do Hortêncio. Depois de chegar a São Leopoldo e residirem na Feitoria Velha, que abrigava os imigrantes alemães até suas terras serem demarcadas, a família de Mathias viajou, ou de carroção pelas picadas, ou de barco pelo rio Cadeia, e estabeleceu-se no lote demarcado, situado perto do Rio Cadeia, naquela época navegável. Hoje localiza-se quase em frente à Capela do Rosário, a 8 km de São José do Hortêncio. Foram anos muito difíceis, pois Mathias teve que, primeiramente, construir uma cabana, coberta com palmeiras para o abrigo da chuva, do frio e do vento, derrubar a floresta, fazer o primeiro plantio, esperar a primeira colheita, caçar animais para alimentar os filhos e enfrentar todas as dificuldades e perigos. Na época, reinava um espírito de solidariedade muito profundo, onde um colono ajudava o outro, em forma de mutirão.

Moinho (ao meio) construído por Mathias ao lado da casa.


Com 40 anos de idade e com seis filhos, teve pouco ajuda deles, pois todos eram crianças: Helena, a mais velha tinha 13 anos, Bárbara, 11 anos, Nikolaus, nove anos, Elizabeth, sete anos, Johannes, cinco anos e Catharina com dois anos. Aqui no Brasil, Mathias teve mais quatro filhos: Rosa, Miguel, Mathias e Pedro. Contou somente com o auxílio de sua esposa Margarethe.

Pedra mó do moinho de Mathias

Podemos ter uma ideia dos sofrimentos que passaram estes nossos ascendentes, através de uma carta de um vizinho de Mathias, chamado João Kayser, datada de 16 de janeiro de 1831, enviada da Picada do Rio de Cadeia (depois Capela do Rosário), à família que ficou na Alemanha. Kaiser ocupou o lote de número 13, quase às margens do Rio Cadeia. Em alguns trechos da carta, João Kayser narra o dia a dia dos colonos que habitaram aquela região. Disse ele:  "a zona da mata onde moramos pode ser comparada a uma aldeia de primeira ordem na Alemanha. Mas tudo é mata e árvores por todo lado. Cada colônia tem 100 braças de largura e 1.600 braças de comprimento, contendo uma braça sete pés e meio. Nesta picada encontram-se 54 colônias do lado direito e 54 no lado esquerdo, 108, portanto, habitadas até agora. Temos recebido direitinho do Imperador, nossos subsídios e mesadas na importância de um franco (160 réis) por dia durante o primeiro ano e meio franco (80 réis) no segundo ano. Também a ferramenta agrícola e o gado prometidos nos devem fornecer ainda”. Depois ele relata a distância entre as localidades. “ De nossa colônia até a cidade de São Leopoldo são seis horas (a cavalo). De lá a Porto Alegre são mais 16 horas por via fluvial e sete por terra”. 
Mathias procurou juntar-se aos demais colonos e já em 1846 ele aparece como fabriqueiro (da diretoria) da paróquia  de São José do Hortêncio. Isto atesta que ele estava engajado na comunidade católica desde os primeiros anos. Na Alemanha, Mathias era moleiro e aqui se preocupou com a instalação do moinho colonial em suas terras, aproveitando um córrego de água. Fez uma represa e dali construiu um canal, com muros de pedra, numa extensão de mais de 200 metros. Hoje resta somente o término do canal, numa extensão de três a quatro metros. Acredita-se que sua construção foi por volta da década de 1830. Nós conhecemos o pequeno moinho, bem como o canal e a represa, ainda na década de 1980. Em 1991 foi destruído pelos proprietários do lote, restando apenas as duas pedras mó, adquiridas, inteligentemente, pela família de Luiz Paulo Martins, de Novo Hamburgo. As pedras foram levadas para o sítio do Casal Martins. Posteriormente, em 2015, retornaram para a Capela do Rosário, estando hoje em frente à casa dos Simon.

Telhas originais do moinho
Aqui no Brasil, Mathias e Margarethe tiveram mais quatro filhos: Rosa, Miguel, Mathias e Pedro. Os filhos, na medida que iam crescendo, trataram de formar novas famílias. As duas primeiras filhas não casaram. Tinham problemas de saúde. O terceiro filho, Nikolaus somente veio a casar em 1847, com 27 anos. A primeira esposa foi Maria Bach. A segunda esposa foi Catharina Munchen em 1861. Tiveram, no total 15 filhos. A quarta filha foi Elizabethe que casou com José Henz; o quinto filho foi João Simon casado com Maria Werlang; a sexta filha foi Catharina Simon casada com João Pedro Walter; a sétima filha foi Rosa Simon casada com Jacob Martini; o oitavo filho foi Miguel Scherer casado com Joana Scherer; o nono filho foi Mathias Simon (Junior) casado com a primeira esposa denominada Margarida Spaniol em 1859, e a segunda Margarida Genevein; o décimo filho, Pedro  morreu solteiro.


Canal d'agua original do moinho
O casal assistiu a todos os casamentos dos filhos, e sempre participou da paróquia de São José do Hortêncio. Mathias veio a falecer, de ataque cardíaco somente em 1866, com 78 anos. Acredita-se que tenha acompanhado a construção da casa dos Simon, pois sua inauguração em 1868, foi dois após sua morte, conforme atesta no frontispício da casa. Na visita ao filho Mathias Junior, ao atravessar um potreiro, o patriarca caiu morto. A esposa Margarethe somente, faleceu em 1881, com 86 anos.
Destes sete filhos que casaram, originou-se toda a árvore genealógica dos Simon, ou seja os descendentes do mesmo tronco de Mathias.. Estima-se que hoje seus descendentes somam em torno de vinte mil pessoas, no Brasil, Argentina e Paraguai. Para a Argentina, foi Aloisio Simon em 1920, migrando de Bom Princípio (RS) e para o Paraguai, foi Jacob Simon em 1969, migrando da cidade de Planalto (PR).
Na próxima edição, vamos retratar o primeiro encontro com Pedro Emanuel Simon, o iniciador da genealogia dos Simon.
 

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 e residirem na Feitoria Velha, que abrigava os imigrantes alemães até suas terras serem demarcadas, a família de Mathias viajou, ou de carroção pelas picadas, ou de barco pelo rio Cadeia, e estabeleceu-se no lote demarcado, situado perto do Rio Cadeia, naquela época navegável. Hoje localiza-se quase em frente à Capela do Rosário, a 8 km de São José do Hortêncio. Foram anos muito difíceis, pois Mathias teve que, primeiramente, construir uma cabana, coberta com palmeiras para o abrigo da chuva, do frio e do vento, derrubar a floresta, fazer o primeiro plantio, esperar a primeira colheita, caçar animais para alimentar os filhos e enfrentar todas as dificuldades e perigos. Na época, reinava um espírito de solidariedade muito profundo, onde um colono ajudava o outro, em forma de mutirão.
Com 40 anos de idade e com seis filhos, teve pouco ajuda deles, pois todos eram crianças: Helena, a mais velha tinha 13 anos, Bárbara, 11 anos, Nikolaus, nove anos, Elizabeth, sete anos, Johannes, cinco anos e Catharina com dois anos. Aqui no Brasil, Mathias teve mais quatro filhos: Rosa, Miguel, Mathias e Pedro. Contou somente com o auxílio de sua esposa Margarethe.
Podemos ter uma ideia dos sofrimentos que passaram estes nossos ascendentes, através de uma carta de um vizinho de Mathias, chamado João Kayser, datada de 16 de janeiro de 1831, enviada da Picada do Rio de Cadeia (depois Capela do Rosário), à família que ficou na Alemanha. Kaiser ocupou o lote de número 13, quase às margens do Rio Cadeia. Em alguns trechos da carta, João Kayser narra o dia a dia dos colonos que habitaram aquela região. Disse ele: “ a zona da mata onde moramos pode ser comparada a uma aldeia de primeira ordem na Alemanha. Mas tudo é mata e árvores por todo lado. Cada colônia tem 100 braças de largura e 1.600 braças de comprimento, contendo uma braça sete pés e meio. Nesta picada encontram-se 54 colônias do lado direito e 54 no lado esquerdo, 108, portanto, habitadas até agora. Temos recebido direitinho do Imperador, nossos subsídios e mesadas na importância de um franco (160 réis) por dia durante o primeiro ano e meio franco (80 réis) no segundo ano. Também a ferramenta agrícola e o gado prometidos nos devem fornecer ainda”. Depois ele relata a distância entre as localidades. “ De nossa colônia até a cidade de São Leopoldo são seis horas (a cavalo). De lá a Porto Alegre são mais 16 horas por via fluvial e sete por terra”.  Mathias procurou juntar-se aos demais colonos e já em 1846 ele aparece como fabriqueiro (da diretoria) da paróquia  de São José do Hortêncio. Isto atesta que ele estava engajado na comunidade católica desde os primeiros anos. Na Alemanha, Mathias era moleiro e aqui se preocupou com a instalação do moinho colonial em suas terras, aproveitando um córrego de água. Fez uma represa e dali construiu um canal, com muros de pedra, numa extensão de mais de 200 metros. Hoje resta somente o término do canal, numa extensão de três a quatro metros. Acredita-se que sua construção foi por volta da década de 1830. Nós conhecemos o pequeno moinho, bem como o canal e a represa, ainda na década de 1980. Em 1991 foi destruído pelos proprietários do lote, restando apenas as duas pedras mó, adquiridas, inteligentemente, pela família de Luiz Paulo Martins, de Novo Hamburgo. As pedras foram levadas para o sítio do Casal Martins. Posteriormente, em 2015, retornaram para a Capela do Rosário, estando hoje em frente à casa dos Simon.
 
 
 
Aqui no Brasil, Mathias e Margarethe tiveram mais quatro filhos: Rosa, Miguel, Mathias e Pedro. Os filhos, na medida que iam crescendo, trataram de formar novas famílias. As duas primeiras filhas não casaram. Tinham problemas de saúde. O terceiro filho, Nikolaus somente veio a casar em 1847, com 27 anos. A primeira esposa foi Maria Bach. A segunda esposa foi Catharina Munchen em 1861. Tiveram, no total 15 filhos. A quarta filha foi Elizabethe casou com José Henz; o quinto filho foi João Simon casado com Maria Werlang; a sexta filha foi Catharina Simon casada com João Pedro Walter;
a sétima filha foi Rosa Simon casada com Jacob Martini; o oitavo filho foi Miguel Scherer casado com Joana Scherer; o nono filho foi Mathias Simon (Junior) casado com a primeira esposa denominada Margarida Spaniol em 1859, e a segunda Margarida Genevein; o décimo filho, Pedro  morreu solteiro.

O casal assistiu a todos os casamentos dos filhos, e sempre participou da paróquia de São José do Hortêncio. Mathias veio a falecer, de ataque cardíaco somente em 1866 com 78 anos. Acredita-se que tenha acompanhado a construção da casa dos Simon, pois sua inauguração em 1868, foi dois após sua morte, conforme atesta no frontispício da casa. Na visita ao filho Mathias Junior, ao atravessar um potreiro, o patriarca caiu morto. A esposa Margarethe somente, faleceu em 1881, com 86 anos.

 

Destes sete filhos que casaram, originou-se toda a árvore genealógica dos Simon, ou seja os descendentes do mesmo tronco de Mathias.. Estima-se que hoje seus descendentes alcançam em torno de vinte mil pessoas, no Brasil, Argentina e Paraguai. Para a Argentina, foi Aloisio Simon em 1920, migrando de Bom Princípio (RS) e para o Paraguai, foi Jacob Simon em 1969, migrando da cidade de Planalto (PR).