quinta-feira, 15 de junho de 2017

PRIMEIRO ENCONTRO COM PEDRO EMANUEL SIMON



Pedro Emanuel com um broche do movimento esperantista na lapela
família como o tio
Inverno de 1964.  O Brasil fervia com o golpe militar de 31 de março. Tinha então 21 anos. Lembro bem. Era um dia frio e chuvoso. De posse do endereço, aproximei-me de uma casa situada na Avenida Bagé 484, no Bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Ali era a residência de Pedro Emanuel Simon. Tudo o que sabia: Pedro era o irmão mais velho do meu pai João Alfredo Simon. Mais: que era dentista de profissão. Estava meio nervoso, pois não tinha nenhuma referência a mais deste tio que era conhecido pela minha Emanuel.
Abri o portão e bati na campainha. Logo a porta foi aberta e eis que aparece a figura simpática de um senhor, meio careca, de óculos, meio gordo, com muita semelhança com meu pai. Deu-me um abraço e conduziu-me a uma sala e, logo começou a conversar perguntando sobre meu pai e minha família. Disse que eu era bem-vindo em sua casa e que ficasse à vontade como se sua casa fosse a minha. De voz mansa, Pedro Emanuel logo revelou sua paixão de vida: a montagem de uma árvore genealógica dos Simon no Brasil. Falando com entusiasmo, começou a discorrer sobre suas descobertas em suas pesquisas na Cúria Metropolitana de Porto Alegre, em cemitérios e em visitas a parentes no interior do Estado. Sempre buscando montar o quebra-cabeças das centenas de família Simon. Em sua euforia, começou a contar-me a história da família começando pelo alemão Mathias Simon, seus dez filhos, e a imensa descendência de cada um. Mostrou-me sua vasta correspondência através de um questionário impresso com perguntas em português e alemão que enviou aos Simon do interior do Estado. Foram centenas de cartas com suas respostas. Eu estava delirando. De uma hora para outra, descobrira que eu fazia parte de uma imensa família que ultrapassava os umbrais de minha família e dos séculos. Ali, descobri que eu era um homem do planeta terra, com imensas e profundas raízes na Alemanha e com histórias mirabolantes. Tio Pedro Emanuel não parava de falar. “O imigrante alemão Mathias Simon foi soldado de Napoleão Bonaparte, por sete anos, e participou de muitas guerras, as chamadas guerras napoleônicas na Península Ibérica e depois em 1812, na invasão russa, com mais de 300 mil soldados, com perdas fantásticas de milhares de soldados mortos. Mathias foi um do 8.000 soldados sobreviventes, que voltou, ferido, para sua terra natal, a cidade de Hermeskeil , na Alemanha. Como estudante de história, eu estava deslumbrado com tamanha história.


Pedro Emanuel (o primeiro à esquerda) com um grupo de cantores

 
Anoitecia. Pedro Emanuel continuava a revelar suas descobertas familiares. Sentado em uma cadeira de balanço, em certos momentos levantava, tal o ardor da narração para um estudante que nada sabia deste passado de glórias, de coragem e destemor dos meus antepassados. E abrindo um armário, tirou milhares de fichas das famílias pesquisadas. E procurou a ficha da minha família, ou seja, de João Alfredo Simon e lá estava eu como nono filho do pai João Alfredo, com data e local de nascimento. Tudo certinho. Assim como dos demais irmãos meus.
Eu estava êxtase, pois de repente abriu-se em minha mente um novo horizonte, sem fronteiras, sem obstáculos, sentindo-me um homem valente, orgulhoso e corajoso por pertencer a esta grande família que atravessou séculos para definitivamente instalar-se em solo brasileiro e gaúcho.
Em seguida, convidou-me para jantar e apresentou-me sua simpática esposa, a tia Maria Ferreira. Durante o jantar, Pedro Emanuel não parou de conversar. E revelou-me outra face de sua intensa vida cultural. Era também professor de esperanto, esta língua universal que atrai adeptos no mundo todo. Deu-me um pequeno opúsculo sobre a língua e entusiasmou-me para aprende-la. Ensinou-me a cantar o canto religioso “Mi estas ce la patrin”, ou seja, “Com minha mãe estarei”. Pedro Emanuel cantava com todos os pulmões e ali percebi que ele tinha uma voz maviosa. Antes das despedidas mostrou-me sua sala de dentista, bem como fotos dos filhos e filhas. Foi uma tarde noite muito proveitosa. Despedi-me com um abraço, prometendo voltar para usufruir de sua cultura e das suas pesquisas genealógicas, convencido que tinha muito a aprender. Era o começo de uma longa jornada que se estende até os dias de hoje.
Na próxima edição, a morte de Pedro Emanuel Simon em Porto Alegre.
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário