quarta-feira, 22 de novembro de 2017

PROF. JOSÉ SIMON, UM EDUCADOR POR EXCELÊNCIA


No século passado, muitos foram os Simon que se destacaram no ramo da educação. Dentro de suas limitações, tais professores se superavam com suas estratégias, procurando minimizar a falta de livros, de estruturas e de métodos de ensino. A criatividade aflorava em cada sala de aula, pois, muitas vezes, eram professores de turmas do primeiro ao quinto ano primário, na mesma hora e na mesma sala de aula, chegando a ter 55 alunos.  

Um deles foi o professor José Simon, na região de Sarandi. José era filho de Miguel Simon Jr. e Ana Maria Liell. Nasceu no dia 24 de fevereiro de 1908, em Campestre pertencendo, na época, ao município de Montenegro. Depois dos seus estudos em Bom Princípio transferiu-se, como os demais irmãos, para as Colônias Novas, mais precisamente para a Linha MANEADOR MIRIM, no interior do município de Sarandi que, na época pertencia ao município de Passo Fundo. A pedido desta comunidade internou-se, ao longo de dois anos, no “Lehrer Seminar” (Escola Normal Rural) de Hamburgo, Velho no prédio que é hoje a Escola Alberto Pasqualini. Retornou ao Maneador (Sarandi) iniciando uma carreira de 30 anos, como professor numa escolinha de madeira para a qual acorria toda a infância das Linhas Mirim e Maneador. Presidia os cultos para a comunidade, a organização de festas religiosas e sociais. Dirigiu durante 40 anos, o coral da comunidade e inclusive presidia até os enterros.

No âmbito familiar, casou com Lucila Klein Talheimer, no dia em 05 de outubro de 1935. Deste matrimônio teve seis filhos. Ao se aposentar administrou, junto com a sua esposa, a “venda” de Maneador. Desta, passou para a mesma atividade em Não Me Toque, onde passaram a residir, ele e os seus filhos, exercendo a função de comerciante. Escolheram também a cidade devido ao atendimento hospitalar e ao serviço médico necessários para a sua idade e saúde debilitada pela dura vida numa fronteira agrícola. Foi chamado de volta para Sarandi para receber o mérito pela sua direção no Coral e o título de Cidadão do município. Faleceu no dia 24 de janeiro de 1992. Depois disto, a cidade de Sarandi deu o seu nome à uma artéria da cidade.


Prof. José Simon
 A Escolinha Rural do Maneador - encarrapitada sobre uma coxilha vermelha ao lado da igrejinha e Campo Santo - apontava para o Norte Geográfico. Ela significava também um norte e uma resistência diuturna na espera de melhores dias, tanto para os seus estudantes, para seus atarefados pais e para o professor atento e sempre presente. Não eram dias melhores para a escola em si mesma, pois não os teve, mas para as sucessivas levas de seus estudantes e a certeza para os pais de um dever cumprido com a nova geração que deveria sucedê-los.


           O professor com seus alunos em 1933


São muitos os detalhes interessantes da vida de um professor e de uma escola  rural. Estudantes que se perfilavam na frente de sua única e pequena porta da escola para cantar o hino nacional, para galgar, em seguida, a sua escadinha de cinco degraus de madeira, para iniciar as suas atividades de cada dia. Vestiam as suas blusas brancas, ostentando as letras EM bordadas em azul. A sua imagem se compunha dos cabelos e faces louras, com olhares tímidos e encabulados. As suas falas não seguiam nem gramática portuguesa nem a germânica. Falavam um alemão arcaico que era objeto de escárnio da parte dos recém vindos de Berlim. Venciam, a pé, distâncias de quatro a cinco Km, carregando as suas sacolas de pano com a lousa de pedra ardósia, parco material escolar e sua merenda, antes de se perfilarem neste cerimonial da porta da escola.
O ritual continuava no interior com as recitações das rezas tradicionais da comunidade agora em língua nacional. As rezas em vernáculo culto, propiciava-lhes o processo de comparação dos vocábulos da língua portuguesa com as mesmas rezas realizadas no âmbito doméstico na sua língua materna e gerava o hábito da gradativa incorporação e aquisição do idioma. Findas estas rezas, era ocasião de mostrar ao professor os exercícios feitos, nos seus domicílios, dos dois lados da lousa de ardósia, ou “pedra” - segundo a sua fala. Exercícios que eles haviam escolhido conforme os seus interesses e repertórios. A seguir, enquanto o professor se ocupava com o ensino das classes mais adiantadas das disciplinas do currículo determinado pelo município em língua nacional, ele destacava os alunos da 4ª série para tomar as lições da cartilha “Queres Ler” dos calouros da 1º série. Alguns anos, os alunos eram em torno de 55. Para se comunicar com os seus estudantes, que apenas conheciam o idioma alemão materno, ele precisava encontrar estratégicas didáticas e culturais para introduzi-los na língua pátria. Sob severa vigilância ao longo do Estado Novo, ele era impedido de qualquer comunicação na língua materna dos seus alunos..

A escolinha em Maneador

O momento mais esperado era o início do “recreio”, ou intervalo de meia hora e destinado à merenda preparada pelas mães e que cada um trazia de casa. Normalmente esta merenda era trocada num comércio alimentar entre as crianças que certamente seguiam o impulso natural da complementação daquela que lhes era habitual no seu lar.
             A manhã terminava com a recitação, em voz alta e coletiva, das diversas tabuadas. Encerravam com as rezas do Ângelus e as respectivas badaladas do sino da capela. As famílias, com estas badaladas, também sabiam, e esperavam o retorno dos escolares para os seus lares para servir a refeição principal do dia. Nestas múltiplas idas e voltas das crianças da escola não houve registro de acidente ao longo dos 30 anos do magistério do Prof. Simon.
Família de José Simon
Os estudantes sentavam, por séries de adiantamentos, em longas classes coletivas de madeira com banco, gaveta e carteira com um furo para a tinta. Esta tinta líquida era distribuída só partir da 3ª série. Antes disto todo o trabalho era realizado nas lousas de pedra de ardósia. A partir da metade do “Primário” os exercício e caligrafia feita na lousa eram passadas aos cadernos de escolares. Usando penas metálicas adaptadas à caneta com cabo de madeira, pintada com lacre colorido.

José cumpriu religiosamente sua tarefa de professor e ao mesmo tempo, era pai, conselheiro, amigo, enfermeiro, regente de coral, agricultor, comerciante, incentivador de esportes, mas principalmente inculcou o caráter em cada um de seus alunos, formando gerações de alunos que hoje ocupam funções importantes na sociedade de diversos municípios. Sem dúvida, um dos mais ilustres Simon entre os nossos ascendentes. (Compilado de Círio Simon)

 

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