quarta-feira, 29 de novembro de 2017


 

         Dê asas à sua imaginação: sua família possuía uma casa de madeira no interior de um município. Por ser uma das primeiras casas da região, a prefeitura adquire a casa e a transfere na sua totalidade para a praça principal da cidade e implanta na sua casa, a Casa de Cultura do município. Pois isto aconteceu com a casa de Anselmo Simon, morador do interior de Quilombo (SC)

Anselmo Simon na IV SIMONFEST em Pinhalzinho
         Um dos Simon que marcou época em Quilombo (SC) foi Anselmo Guilherme Simon, filho de Jacob Simon e Elisabetha Hentz Simon, neto de Miguel Simon, bisneto de Nicolau e tataraneto de Mathias Simon, nosso Patriarca.

        A trajetória de Anselmo Simon começa na localidade de Sede Dourado, município de Aratiba onde nasceu e estudou até a 4ª série. Sua família era de agricultores, que lutavam para a subsistência e onde a fartura imperava, devido à diversidade de produção. A família participava ativamente da comunidade a ponto do pai Jacob Simon e suas irmãs participarem do coral da igreja católica.


Família de Anselmo com 14 filhos
        A vida em família era normal para a época. As diversões eram os bailes, os filós, jogos de bocha e posteriormente também o jogo de bolão. O pai Jacob era muito brincalhão. Lembra Anselmo de uma curiosidade com o pai Jacob: certa vez estava na lavoura, fazendo seu cigarro de palha, quando surgiu um avião. Todos diziam que era do Presidente da República. Então ele, em tom de brincadeira, falou: “Nossa o Presidente? Que vergonha, me viu parado e ainda por cima fumando!” (tudo em alemão)

Anselmo com a mãe Elizabetha
       No entanto, a família movida pela propaganda sobre a excelência de terras produtivas em Santa Catarina, resolveu sair dos peraus de Sede Dourado quase à beira do Rio Uruguai, para Quilombo (SC)  Em 1948 saíram de Sede Dourado (com os dois filhos menores), levando de caminhão toda a mudança. Os cavalos e bois foram por terra, enfrentando toda a sorte de dificuldades na travessia do Rio Uruguai. Em Quilombo tiveram o auxílio inicial da irmã de Anselmo, Rosa Elvira, até a decisão de comprarem suas próprias terras.

         Anselmo tinha então com 17 anos. Logo ambientou-se naquela localidade e com a família de seu pai,  escolheram um região onde havia muita mata e água, com caça e pesca abundantes. Foram adquiridas três colônias de terras, junto a um rio.                             

         Anselmo casou-se com Aloisia Martha Hannauer Simon. A princípio, o casal trabalhou na roça, mas Anselmo também colaborava numa serraria e construía casas de madeira. Uma delas foi do seu amigo Luiz Kottwitz onde ajudou a erguer uma casa linda, grande e após sua conclusão a comprou passando a morar nela com seus pais e seus filhos no ano de 1964. Ali outros filhos nasceram, num total de 14.

         Anselmo estava sempre atento às novas tecnologias. Uma delas foi a energia elétrica. Quando a CELESC – Companhia de eletricidade de Santa Catarina chegou em Quilombo, por volta de 1969,  Anselmo foi entre poucos agricultores a instalar energia em sua residência, com todos os benefícios advindos. Um deles foi a instalação de uma televisão, a primeira em toda a redondeza. Nos jogos das copas de 1974, 1978 a casa ficava repleta de vizinhos torcendo pelo Brasil.

                          O espírito empreendedor de Anselmo não parou por aí. Juntamente com seu cunhado Ivo Hannauer construiu um grande moinho, com uma imensa roda d’água de nove metros de altura. Foram construídas duas represas, uma no Rio Quilombo e outra numa sanga, O canal com água passava pelas terras de Luiz Kottwitz e pelas terras de Anselmo até chegar ao moinho, onde fazia-se farinha para toda a região.  

                          Além de toda sua atividade, Anselmo tinha um hobby, a fotografia, Com sua Kodak fotografava a vida de uma família rural e de sua comunidade, Gostava de fotografar, principalmente a juventude, os banhos de rio e as reuniões dos grupos de jovens.

         Outra atividade era a medição de terras. Por muitos anos foi um agrimensor. Apesar de possuir somente o ensino primário, era requisitado para fazer medição de terras e o resultado não era contestado por ninguém, merecendo o respeito entre seus vizinhos e amigos.

          Sobretudo, Anselmo era de um coração generoso. Sua felicidade era fazer os outros felizes. Seu fuca levava e trazia gratuitamente os vizinhos para a cidade, sempre ajudando os que mais necessitavam.

          Os anos de lutas e dificuldades vencidas começavam a pesar sobre a sua saúde. Com o agravamento da asma foi obrigado a deixar de trabalhar na agricultura. Aí entrou novamente seu espírito empreendedor e seu amor pela natureza: a produção de frutíferas. Andava por todos os cantos de Quilombo e interior, fazendo os pedidos e após, alugava um caminhão e ia a São Sebastião do Caí e redondezas buscar as mudas. Lotava um caminhão de tantas mudas que comprava, depois com seu fusca percorria todas as localidades do interior fazendo as entregas. Uma das filhas revelou que “Tivemos também viveiros de pinheirinhos, por muitos anos, Todos os filhos participavam da produção, enchendo os saquinhos de terra e acondicionando um do lado do outro em grandes canteiros. Quando os pinheiros já estavam com 10 cm mais ou menos eram vendidos ou replantados na propriedade”.

         Paralelamente, Anselmo abriu uma loja de roupas, joias e relógios, no ano de 1979. Ele mesmo com a ajuda das filhas, confeccionou a placa da loja (CASA SIMON – Roupas Relógios e Joias). Viajava à São Paulo e fazia as compras para a  loja, porém como ele era do tempo do fio de bigode, não associou-se ao SPC e vendia  tudo no crediário, fiado. Fazia empréstimos no Banco, ia para São Paulo comprar mercadorias, porém muitos não pagavam, até hoje minha mãe guarda algumas notas promissórias que nunca foram executadas. Assim o negócio faliu. Ah! Ele também foi candidato à Vereador e não se elegeu por 15 votos. Era defensor fervoroso da ARENA. Relata uma das filhas que “lá em casa não havia discussão, meu pai não permitia, era taxativo e convicto de que partido bom era a ARENA e time de futebol, o GRÊMIO”.  Os filhos cresceram  sob a supervisão do pai, que deve ter herdado de seus antepassados o jeito enérgico de educar. Não admitia em hipótese alguma que os filhos desobedecessem suas ordens. Mas por outro lado era carinhoso, gostava que os pequenos sentassem em seu colo, prendendo os pés entre suas pernas para fazer ginástica. Se ele ficasse doente queria sempre alguém segurando sua mão e gostava de flores principalmente rosas, em seu quarto.

                        Os netos meninos adoravam passear na casa do vovô, como era chamado, para acamparem. O vô pegava um facão, lona, cobertores, cordas e juntamente com seus netos se dirigia para a beira do rio em um local com matinho fechado, onde faziam o acampamento.


Casa de Anselmo, hoje Casa de Cultura de Quilombo
                       Em junho de 1997, faleceu por complicações pulmonares, com 65 anos. Foi então que a casa, para surpresa de filhos e netos, com interferência do filho Francisco Simon, foi adquirida pela Prefeitura Municipal de Quilombo. A princípio foi colocada na Praça da cidade, com mastros da bandeira do município, estado e Brasil, como Casa da Cultura. Hoje ela continua sendo a Casa de Cultura do município, porém está localizada em rua lateral, próxima à Prefeitura Municipal. Ela tornou-se o símbolo da cidade de Quilombo. Aventura única na história dos Simon.

3 comentários:

  1. Obrigada Camilo por esta homenagem ao meu pai. Ele era um homem forte, de fibra que deixou um belo exemplo para seus descendentes. Todos teu orgulho do vovô Anselmo Simon

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  2. Linda homenagem!
    Muito bom relembrar das belas histórias.

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  3. Eu tinha um tio chamado Alfredo Simon que faleceu faz uns 3ou 5 anos e não me engano. A mulher dele é chamada de Lori tenho uma prima.Mas não os conheci pessoalmente.Ele era político de Porto Alegre não sei se ministro ou algo de um cargo desse género.

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