É muito confuso escrever sobre a cidade de Jerusalém porque sua
história é tão rica que dificilmente abarcaríamos sua totalidade. Foi fundada
pelo rei David há três mil anos e desde então foi palco de inúmeras guerras.
Segundo os especialistas, Jerusalém foi sitiada 23 vezes, atacada 52 vezes,
recapturada 44 vezes e destruída duas vezes. A última vez foi no ano 70 dC,
pelos romanos que arrasaram a cidade, destruindo e queimando tudo.
Uma das ruas estreitas de Jerusalém velha |
Como eu poderia descrever tão rica história em poucas linhas?
Impossível! Por isso, relato apenas impressões deste peregrino que visitou a
cidade por cinco vezes.
Jerusalém, é dividida em duas. A antiga dentro dos muros
construídos em 1538 pelo sultão otomano Solimão e a nova, situada ao redor da
cidade velha, que se mostra pujante, moderna, com largas avenidas, metrô de
superfície, túneis, viadutos, praças, museus e imensos edifícios que abrigam em
torno de 800 mil habitantes. Não foi fácil construir a cidade nova, pois
Jerusalém fica situada nas montanhas, a cerca de 800 metros acima do
nível do mar. As montanhas ao redor foram dominadas pela mão do homem que
construiu suas casas e apartamentos para os novos moradores, que vieram de
todas as partes do mundo, a partir de sua fundação de Israel em 1948.
Oficialmente, Jerusalém é considerada a capital do país, mas não para a ONU. As
embaixadas estão em Tel Aviv que é a capital financeira. Em Jerusalém está o
Parlamento, o Knesset e ali residem os ministros e todo o governo.
Igreja Santo Sepulcro, a maior |
O coração da cidade é a velha Jerusalém, palco de tantas
histórias, de derrotas e vitórias. Ali estão as bases das religiões cristã,
judaica e muçulmana. As três religiões reivindicam para si a primazia do local.
De 1948 até 1983, a
cidade estava dividida em oriental e ocidental. Em 1983, Israel, que dominava a
parte ocidental se apoderou da Jerusalém Oriental que pertencia à Jordânia.
Desde então, a cidade foi dividida em quatro partes: dos judeus, dos
muçulmanos, dos cristãos e dos armênios. O quarteirão dos judeus abriga o
famoso Muro das Lamentações e as escavações do lado sul, dos tempos do Rei
David. Possui também o túmulo do Rei David e uma quantidade muito grande, em
torno de 40 túneis da cidade antiga. Um deles tem mais de 600 metros de
comprimento e levava água de fora dos muros para a piscina de Siloé, local de
curas feitas por Jesus. Os cristãos têm em sua área cerca 40 conventos e
igrejas, destacando-se o Santo Sepulcro, cenário da paixão, morte, sepultamento
e ressurreição de Jesus; a Via Dolorosa, com
suas 14 estações, passando pelas ruas estreitas que abrigam hoje muitas
lojas; o Cenáculo da Última Ceia, entre outras igrejas como a da Flagelação. No
quarteirão dos muçulmanos distingue-se a Domo da Rocha e a Mesquita de Al Aqsa.
Tem também o bairro armênio que abriga várias igrejas.
A reza no Muro das Lamentações |
Andando pela cidade velha
quase não se distingue os bairros e nas ruas estreitas, por onde não passam
carros, existem milhares de lojinhas, que oferecem produtos aos peregrinos,
tanto cristãos como judeus e muçulmanos. Ali se encontra toda sorte de
presentes confeccionados em madeira de oliveiras e produtos “made in China”,
como em qualquer outro lugar do mundo. A pechincha existe em todas as lojas.
Vendem também roupas e comidas típicas árabes como a shawarma e o falafel, à
base de carne e verduras, com aquele pão árabe redondo, que chamam de pitas. É
o “fast food” dos árabes. No bairro muçulmano, vendedores oferecem verduras
frescas na rua.
A Via Dolorosa tem 14 estações |
A principal atração para os turistas é o Muro das Lamentações,
onde qualquer pessoa pode rezar, tocar o muro de 70 metros de largura e
deixar um bilhetinho com pedido a Deus. Para rezar, os homens ficam separados
das mulheres por uma cerca. Fiquei ali por alguns minutos, invocando ao Deus
dos judeus e dos cristãos, uma solução para os conflitos nesta Terra Santa,
onde não existe paz duradoura.
Em primeiro plano, cemitério dos judeus. Ao fundo, a cidade velha |
Para os cristãos, uma grande atração é o Santo Sepulcro, que
recebe, diariamente, milhares de peregrinos. O edifício é compartilhado pela
igreja católica, pelos gregos ortodoxos e pelos armênios ortodoxos, gerando
muita confusão. A chave da Basílica está confiada a uma família muçulmana que
abre e fecha a igreja todos os dias. A impressão que se tem, entrando na
igreja, é de grande balbúrdia, pois os peregrinos formam imensas filas para
visitar o local do sepultamento e o empurra-empurra dificulta a concentração.
Um pé de oliveira de mais de 1000 anos |
Fora dos muros, a seis kms, situa-se a cidade de Belém, local do
nascimento de Jesus e o Monte das Oliveiras, onde Jesus foi preso. Ali, a
principal Basílica é a da Agonia de
Cristo. O frei franciscano Darcísio Hobaert, gaúcho de Crissiumal, trabalha ali
e se considera guardião das oliveiras. Ele revelou-me que, diariamente, visitam
a Basílica mais de 10 mil pessoas. Ali estão as famosas árvores do Jardim das
Oliveiras com mais de 1000 anos de existência.
O grande problema para a Igreja Católica é a ausência de cristãos
residindo na Terra Santa, principalmente em Jerusalém, onde predominam os
judeus e os muçulmanos. O mesmo ocorre em Nazaré e Belém, onde predominam os árabes
muçulmanos.
Igreja da Agonia, no Monte das Oliveiras |
Jerusalém segue sendo uma cidade indivisível, que sempre será dos
judeus, como eles afirmam. Por ela, este povo dará a vida, se for necessário.
Disso, não tenho dúvidas.
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