O incrível
aconteceu: um Projeto chamado Magdala Center que previa a construção de um
hotel, restaurante e igreja ás margens do Lago Genezaré, em Israel, teve suas obras paralisadas por um ano pelo seguinte: quando os construtores começaram
as sondagens do hotel descobriram a 50 cm do chão, as ruínas de uma imensa cidade
milenar dos tempos de Jesus, chamada Magdala. E aí vem a surpresa: é a terra
natal de Maria Madalena, a mulher forte dos evangelhos que seguiu a Jesus até
sua morte e ressurreição. As ruínas são o achado arqueológico mais importante
dos últimos 50 anos.
Voluntários auxiliam arqueólogos nas escavações |
Tudo começou quando Juan
Solana, um padre visionário mexicano, da Congregação dos Legionários de Cristo,
sonhou em 2005 construir um local para peregrinos cristãos, às margens do Lago
Genezaré, ao norte de Israel. Feito o projeto, depois de passar para Autoridade
Arqueológica de Israel, as obras começaram em 2009 e foram interrompidas quando
as máquinas perfuratrizes foram barradas
por uma imensa pedra. Era parte da sinagoga judia, dos tempos de Cristo, uma
das sete encontradas em Israel. As obras pararam por um ano e depois foram reiniciadas
as escavações, que hoje completam quatro anos. O resultado é assombroso: uma
cidade inteira está sendo descoberta, pedra por pedra, surgindo da dormência de
dois mil anos para a luz solar do século XXI. “Recebemos gratuitamente um
presente do céu: uma cidade dos tempos de Jesus, sem sabermos nada de sua
existência”- diz o Pe. Juan Solana, o idealizador do Projeto Magdala Center.
A sinagoga do primeiro século |
O sítio
arqueológico é formado por toda a cidade. Até o momento foram escavados cerca
de um terço do total e as descobertas são muito importantes: a sinagoga, o mercado
público, a Casa dos dados, ou seja, dos banhos de purificação, o bairro dos
pescadores, casas de pobres e o porto de Magdala. Visitei e ajudei a escavar em
alguns lugares, como é o caso do cais do porto. A sensação é que estamos
acordando uma cidade inteira de seu sono letárgico de dois mil anos.
A pia de pedra para lavar as mãos |
A maior descoberta é a sinagoga. Tem
forma quadrada, com as dimensões de onze metros de comprimento por onze de
largura. Os bancos são de pedra maciça. No meio da sinagoga foi encontrada uma
menorah, símbolo dos judeus que existia no Templo de Jerusalém, no Santo dos
Santos. É uma pedra retangular, de 50 cm de comprimento por 40 cm de largura, com
símbolos esculpidos. É a primeira vez que se encontra este símbolo fora de
Jerusalém. O lado de cima da pedra tem uma roseta símbolo do poder de Deus que
é infinito; duas palmeiras; quatro folhas com a forma de corações, dois cálices;
duas ânforas para colocar azeite. Nos lados tem quatro arcos, duas lâmpadas de
azeite e duas rodas com línguas de fogo, simbolizando Elias que subiu ao céu
com um carro de fogo. Ao lado da sinagoga,
existe uma sala, chamada de Bet Midrash, onde se ensinava a Torah, o livro sagrado dos judeus. Na rua lateral da sinagoga se encontra uma pia de pedra para lavar as mãos. Esta
sinagoga é bem possível que Jesus tenha freqüentado, pois ele pregava de cidade
em cidade, de aldeia em aldeia e utilizava a sinagoga como púlpito. Nos
evangelhos há um trecho que narra a multiplicação dos sete pães e dois peixes.
Depois do milagre Jesus dirigiu-se a Magadan, o que significa Magdala. Além do
mais, Magdalena que vivia na cidade, era amiga de Jesus e uma das mulheres que
viajava com Ele.
A Menorah com símbolos judaicos |
Outra descoberta que
fica ao lado da sinagoga é o mercado público. Existe uma rua que corre de norte
a sul. Ali foram descobertas salas dos comerciantes, com tanques para salgar o
peixe e com pequenas piscinas, onde colocavam o peixe vivo. Outra atração é a Casa
dos Dados com os famosos mik wa’ot, ou seja, locais de purificação onde os
judeus tomavam banho várias vezes por dia. São três os mikwa’ot que possuem
água limpa e corrente até os dias de hoje. Há uma cisterna onde brota água
límpida. Mais adiante está a casa onde viviam pessoas mais simples, pois não
possuíam os mikwa’ot. Também existe uma rua que separa as casas. Caminhando em
direção ao porto, vemos a casa dos pescadores, com repartições para guardar as
redes. Magdala, na época era o maior centro pesqueiro do Lago Genezaré. Seus
produtos salgados eram vendidos em Jerusalém e até em Roma. Ali foram
encontrados anzóis e peças para redes de pesca E perto do Lago, o cais do
porto, com salas para o comércio local e ruas internas. Ali foi encontrada uma
âncora. São inúmeros os achados pelos arqueólogos, como espadas, mais de 700
moedas, vasos de cerâmica, vidros, dados, vasilhas de perfume, objetos para
maquiagem, colheres, facas, colares, anzóis, chumbos para redes de pesca, além
de outros de menor importância.
Um dos banhos de purificação |
O Projeto Magdala
Center está construindo no local uma igreja, um restaurante e um hotel para 300
peregrinos.
Foram encontradas mais de 700 moedas |
Magdala na história
A histórica Magdala,
na época de Jesus, era uma cidade fortificada com muros e tinha em torno de 15 a 20 mil habitantes. O
viajante que vinha do Egito ou dos portos do Mar Mediterrâneo em direção a
Damasco na Síria, hospedava-se em Magdala e por isso havia pousadas. Os invasores romanos comandados pelo general
Vespasiano e seu filho Tito, em 66 dC, invadiram a Galileia, incendiando e
matando milhares de judeus. Magdala foi invadida pelo general Tito. Os judeus
fugiram e muitos embarcaram em barcos e ficavam a uma distância de 100 metros , dentro do
Lago. Os romanos fizeram novos barcos e foram ao encontro dos judeus que
morreram aos milhares. Diz o historiador Flávio Josefo, presente ao ato, que foram
mortos em torno de 6.500 pessoas. Os que saíam nadando, eram perseguidos pelos
romanos que cortavam as mãos para impedirem o nado. A praia ficou vermelha de
sangue e de cadáveres. Uns dias depois, o fedor dos cadáveres era tanto que os
romanos tiveram que voltar a Tiberias. Junto, foram judeus que ficaram na
cidade. Em Tiberias, Vespasiano ordenou a matança de todos os velhos e os que
podiam pegar em armas. Mais de seis mil homens foram enviados ao imperador Nero
para a construção do Istmo de Moréia (Grécia). O restante do povo foi
escravizado e cerca de 30 mil foram vendidos. Este foi o triste fim da cidade
de Magdala, que hoje ressurge para assumir seu lugar na história.
Á esquerda, as pias para salgar peixes |
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