segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Magdala, a cidade que acordou do sonho letárgico de dois mil anos



O incrível aconteceu: um Projeto chamado Magdala Center que previa a construção de um hotel, restaurante e igreja ás margens do Lago Genezaré, em Israel, teve suas obras paralisadas por um ano pelo seguinte: quando os construtores começaram as sondagens do hotel descobriram a 50 cm do chão, as ruínas de uma imensa cidade milenar dos tempos de Jesus, chamada Magdala. E aí vem a surpresa: é a terra natal de Maria Madalena, a mulher forte dos evangelhos que seguiu a Jesus até sua morte e ressurreição. As ruínas são o achado arqueológico mais importante dos últimos 50 anos.
Voluntários auxiliam arqueólogos nas escavações


Tudo começou quando Juan Solana, um padre visionário mexicano, da Congregação dos Legionários de Cristo, sonhou em 2005 construir um local para peregrinos cristãos, às margens do Lago Genezaré, ao norte de Israel. Feito o projeto, depois de passar para Autoridade Arqueológica de Israel, as obras começaram em 2009 e foram interrompidas quando as máquinas  perfuratrizes foram barradas por uma imensa pedra. Era parte da sinagoga judia, dos tempos de Cristo, uma das sete encontradas em Israel. As obras pararam por um ano e depois foram reiniciadas as escavações, que hoje completam quatro anos. O resultado é assombroso: uma cidade inteira está sendo descoberta, pedra por pedra, surgindo da dormência de dois mil anos para a luz solar do século XXI. “Recebemos gratuitamente um presente do céu: uma cidade dos tempos de Jesus, sem sabermos nada de sua existência”- diz o Pe. Juan Solana, o idealizador do Projeto Magdala Center.
A sinagoga do primeiro século

         O sítio arqueológico é formado por toda a cidade. Até o momento foram escavados cerca de um terço do total e as descobertas são muito importantes: a sinagoga, o mercado público, a Casa dos dados, ou seja, dos banhos de purificação, o bairro dos pescadores, casas de pobres e o porto de Magdala. Visitei e ajudei a escavar em alguns lugares, como é o caso do cais do porto. A sensação é que estamos acordando uma cidade inteira de seu sono letárgico de dois mil anos.
A pia de pedra para lavar as mãos

         A maior descoberta é a sinagoga. Tem forma quadrada, com as dimensões de onze metros de comprimento por onze de largura. Os bancos são de pedra maciça. No meio da sinagoga foi encontrada uma menorah, símbolo dos judeus que existia no Templo de Jerusalém, no Santo dos Santos. É uma pedra retangular, de 50 cm de comprimento por 40 cm de largura, com símbolos esculpidos. É a primeira vez que se encontra este símbolo fora de Jerusalém. O lado de cima da pedra tem uma roseta símbolo do poder de Deus que é infinito; duas palmeiras; quatro folhas com a forma de corações, dois cálices; duas ânforas para colocar azeite. Nos lados tem quatro arcos, duas lâmpadas de azeite e duas rodas com línguas de fogo, simbolizando Elias que subiu ao céu com um carro de fogo. Ao lado da sinagoga, existe uma sala, chamada de Bet Midrash, onde se ensinava a Torah, o livro sagrado dos judeus. Na rua lateral  da sinagoga se encontra uma pia de pedra para lavar as mãos. Esta sinagoga é bem possível que Jesus tenha freqüentado, pois ele pregava de cidade em cidade, de aldeia em aldeia e utilizava a sinagoga como púlpito. Nos evangelhos há um trecho que narra a multiplicação dos sete pães e dois peixes. Depois do milagre Jesus dirigiu-se a Magadan, o que significa Magdala. Além do mais, Magdalena que vivia na cidade, era amiga de Jesus e uma das mulheres que viajava com Ele.
A Menorah com símbolos judaicos

Outra descoberta que fica ao lado da sinagoga é o mercado público. Existe uma rua que corre de norte a sul. Ali foram descobertas salas dos comerciantes, com tanques para salgar o peixe e com pequenas piscinas, onde colocavam o peixe vivo. Outra atração é a Casa dos Dados com os famosos mik wa’ot, ou seja, locais de purificação onde os judeus tomavam banho várias vezes por dia. São três os mikwa’ot que possuem água limpa e corrente até os dias de hoje. Há uma cisterna onde brota água límpida. Mais adiante está a casa onde viviam pessoas mais simples, pois não possuíam os mikwa’ot. Também existe uma rua que separa as casas. Caminhando em direção ao porto, vemos a casa dos pescadores, com repartições para guardar as redes. Magdala, na época era o maior centro pesqueiro do Lago Genezaré. Seus produtos salgados eram vendidos em Jerusalém e até em Roma. Ali foram encontrados anzóis e peças para redes de pesca E perto do Lago, o cais do porto, com salas para o comércio local e ruas internas. Ali foi encontrada uma âncora. São inúmeros os achados pelos arqueólogos, como espadas, mais de 700 moedas, vasos de cerâmica, vidros, dados, vasilhas de perfume, objetos para maquiagem, colheres, facas, colares, anzóis, chumbos para redes de pesca, além de outros de menor importância.
Um dos banhos de purificação

O Projeto Magdala Center está construindo no local uma igreja, um restaurante e um hotel para 300 peregrinos.
Foram encontradas mais de 700 moedas

Magdala na história
A histórica Magdala, na época de Jesus, era uma cidade fortificada com muros e tinha em torno de 15 a 20 mil habitantes. O viajante que vinha do Egito ou dos portos do Mar Mediterrâneo em direção a Damasco na Síria, hospedava-se em Magdala e por isso havia pousadas.  Os invasores romanos comandados pelo general Vespasiano e seu filho Tito, em 66 dC, invadiram a Galileia, incendiando e matando milhares de judeus. Magdala foi invadida pelo general Tito. Os judeus fugiram e muitos embarcaram em barcos e ficavam a uma distância de 100 metros, dentro do Lago. Os romanos fizeram novos barcos e foram ao encontro dos judeus que morreram aos milhares. Diz o historiador Flávio Josefo, presente ao ato, que foram mortos em torno de 6.500 pessoas. Os que saíam nadando, eram perseguidos pelos romanos que cortavam as mãos para impedirem o nado. A praia ficou vermelha de sangue e de cadáveres. Uns dias depois, o fedor dos cadáveres era tanto que os romanos tiveram que voltar a Tiberias. Junto, foram judeus que ficaram na cidade. Em Tiberias, Vespasiano ordenou a matança de todos os velhos e os que podiam pegar em armas. Mais de seis mil homens foram enviados ao imperador Nero para a construção do Istmo de Moréia (Grécia). O restante do povo foi escravizado e cerca de 30 mil foram vendidos. Este foi o triste fim da cidade de Magdala, que hoje ressurge para assumir seu lugar na história.
Á esquerda, as pias para salgar peixes





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