O pioneiro do cinema em todo o
Planalto Médio do RGS foi Jacob Simon, na cidade de Carazinho. Jacob nasceu na
Vila Forqueta, então distrito de Caxias do Sul. Com sua esposa Emilia Tschiedel
tiveram 11 filhos. Era descendente de Nicolau Simon, terceiro filho de Mathias Simon, o imigrante alemão. Inicialmente Jacob foi carpinteiro em Porto Alegre. Depois
trabalhou em Santo Ângelo com caminhão que transportava víveres. Posteriormente,
em 1920, mudou-se para Carazinho, então distrito de Passo Fundo, montando sua
carpintaria na própria casa. Ali também eram realizados bailes populares. Era
famoso o casarão dos Simon que iria servir de ganha pão com o advento do
cinema.
O cinema em Carazinho iniciou em
1923, quando um paraguaio trouxe um aparelho de projeção (Pathe Frères)
colocou-o sobre a mesa e projetou imagens (cinema ambulante) num lençol branco estendido
na parede. Era um farwestão americano. O paraguaio aparecia a cada quatro
meses, quando conseguia um novo filme que era projetado no salão dos “Simon”
com a renda dividida. Jacob Simon entusiasmou-se com o cinematógrafo,
alugando-o. Como não havia energia elétrica, usou a força do dínamo de seu
calhambeque, suficiente para a projeção do filme mudo. Ajudado pelos seus
filhos fabricou poltronas que eram
removidas do salão por ocasião dos bailes. Como o filme era mudo, Mercedes
filha de Jacob acompanhava-o ao piano alugado. Segundo seu depoimento, o cinema
foi sua escola de música, tocando de ouvido e improvisando. Nas cenas
românticas improvisava melodias com
harpejos e trinados e nos de terror tocava acordes graves e agudos; nas cenas
com cavalos tocava “Oh casta Suzana”. Mercedes adquiriu o hábito de tocar
olhando o filme e acompanhando o ritmo com o corpo. A platéia entusiasmava-se e
assobiava as melodias marcando ritmo com os pés. As sessões de cinema eram
anunciadas por três toques fortes de uma estridente sirene, ouvida em toda a
vila.
Algum tempo depois veio o vitafone
(1931) que tocava acoplado ao aparelho. A filha Juliana era encarregada de
colocar as músicas adequadas. Já o lovitafone reproduzia ruídos e as falas das
cenas. A estréia do cinema falado foi
com o filme “A noiva” da United Artists com a “platinum blonde” Jean Marlow, a
grande estrela da época. Em 1933 terminaram os bailes permanecendo as sessões
de cinema na rua Itararé até os fins de 1936.
Em 1935 Eduardo Graeff construiu um
prédio de alvenaria na Av. Flores da
Cunha (rua principal de Carazinho) alugando-o para a viúva Emília Simon por 5
anos. Ali foi instalado o cinema “Recreio” com 500 lugares e uma nova
aparelhagem, o “movietone”. Mais tarde foi comprado e transformado em
apartamentos com o nome de Edifício Simon.
Em torno da Rua do “Comércio”
surgiram outros concorrentes do cinema
Recreio, com a instalação do cinema Avenida. Os dois cinemas concorriam entre
si. Em 1939 o cinema Avenida fechou e Emília Simon alugou-o por 10 anos montando outro cinema Recreio. Em 1941 a
empresa montou o cinema Gaúcho em Palmeira das Missões. Em 1944 foi construído
o Cine Glória, no Bairro Glória. A empresa alugou cinemas em Soledade e Getúlio
Vargas, por alguns anos.
Em 1947 iniciou-se a construção do
Cine Brasília que foi concluído em 1960. A empresa formou uma rede de locação
de filmes para toda a região chegando a ter em estoques 63 filmes. Os cinemas
sempre lotados davam sessões todas as noites e aos domingos tinha matinê com
duas sessões. Passavam farwestes e os seriados Tarzan e Jane.
Em 1936, Jacob faleceu e a viúva Emilia com a família continuou
com o cinema, dirigindo até 1966. Ainda
em vida recebeu o título de primeira empresária carazinhense e cidadã
honorária. Ela foi substituída pelo filho Raul que por sua vez foi passada a administração
para o filho Marco Aurélio Simon até seu falecimento.
A história do cinema no Planalto Médio se confunde com a
história da família de Jacob Simon. Quase
100 anos se passaram e ainda hoje os carazinhenses lembram deste
importante meio de lazer que durante décadas proporcionou bons filmes para o
povo. Parabéns.
Oi Camilo. Tudo bem?
ResponderExcluirMuito obrigado por compartilhar a história da sua família. Estive no Cine Gaúcho, em Palmeira das Missões, em 2015 quando estava realizando as filmagens para um documentário sobre a história da Família Levy, de Três Passos, e conheço o Cine Brasília através do filme homônimo feito pelo Boca Migotto em 2014.
Essas histórias precisam ser contadas.
Forte abraço,
Christian Jafas
https://www.facebook.com/cinegloboofilme