quarta-feira, 13 de setembro de 2017

JACOB SIMON PIONEIRO DA CINEMATOGRAFIA NO PLANALTO MÉDIO DO RGS

O pioneiro do cinema em todo o Planalto Médio do RGS foi Jacob Simon, na cidade de Carazinho. Jacob nasceu na Vila Forqueta, então distrito de Caxias do Sul. Com sua esposa Emilia Tschiedel tiveram 11 filhos. Era descendente de Nicolau Simon, terceiro filho de Mathias Simon, o imigrante alemão. Inicialmente Jacob foi carpinteiro em Porto Alegre. Depois trabalhou em Santo Ângelo com caminhão que transportava víveres. Posteriormente, em 1920, mudou-se para Carazinho, então distrito de Passo Fundo, montando sua carpintaria na própria casa. Ali também eram realizados bailes populares. Era famoso o casarão dos Simon que iria servir de ganha pão com o advento do cinema.
Emília T. Simon ao centro
O cinema em Carazinho iniciou em 1923, quando um paraguaio trouxe um aparelho de projeção (Pathe Frères) colocou-o sobre a mesa e projetou imagens (cinema ambulante) num lençol branco estendido na parede. Era um farwestão americano. O paraguaio aparecia a cada quatro meses, quando conseguia um novo filme que era projetado no salão dos “Simon” com a renda dividida. Jacob Simon entusiasmou-se com o cinematógrafo, alugando-o. Como não havia energia elétrica, usou a força do dínamo de seu calhambeque, suficiente para a projeção do filme mudo. Ajudado pelos seus filhos fabricou poltronas  que eram removidas do salão por ocasião dos bailes. Como o filme era mudo, Mercedes filha de Jacob acompanhava-o ao piano alugado. Segundo seu depoimento, o cinema foi sua escola de música, tocando de ouvido e improvisando. Nas cenas românticas  improvisava melodias com harpejos e trinados e nos de terror tocava acordes graves e agudos; nas cenas com cavalos tocava “Oh casta Suzana”. Mercedes adquiriu o hábito de tocar olhando o filme e acompanhando o ritmo com o corpo. A platéia entusiasmava-se e assobiava as melodias marcando ritmo com os pés. As sessões de cinema eram anunciadas por três toques fortes de uma estridente sirene, ouvida em toda a vila.

Raul Simon e esposa um dos administradores
Algum tempo depois veio o vitafone (1931) que tocava acoplado ao aparelho. A filha Juliana era encarregada de colocar as músicas adequadas. Já o lovitafone reproduzia ruídos e as falas das cenas. A estréia do cinema falado  foi com o filme “A noiva” da United Artists com a “platinum blonde” Jean Marlow, a grande estrela da época. Em 1933 terminaram os bailes permanecendo as sessões de cinema na rua Itararé até os fins de 1936.
Em 1935 Eduardo Graeff construiu um prédio de alvenaria  na Av. Flores da Cunha (rua principal de Carazinho) alugando-o para a viúva Emília Simon por 5 anos. Ali foi instalado o cinema “Recreio” com 500 lugares e uma nova aparelhagem, o “movietone”. Mais tarde foi comprado e transformado em apartamentos com o nome de Edifício Simon.
Em torno da Rua do “Comércio” surgiram outros concorrentes  do cinema Recreio, com a instalação do cinema Avenida. Os dois cinemas concorriam entre si. Em 1939 o cinema Avenida fechou e Emília Simon alugou-o por 10 anos  montando outro cinema Recreio. Em 1941 a empresa montou o cinema Gaúcho em Palmeira das Missões. Em 1944 foi construído o Cine Glória, no Bairro Glória. A empresa alugou cinemas em Soledade e Getúlio Vargas, por alguns anos.
Marco Aurélio Simon e sua irmã Marisa ao centro
no Encontro dos Simon em Carazinho
Em 1947 iniciou-se a construção do Cine Brasília que foi concluído em 1960. A empresa formou uma rede de locação de filmes para toda a região chegando a ter em estoques 63 filmes. Os cinemas sempre lotados davam sessões todas as noites e aos domingos tinha matinê com duas sessões. Passavam farwestes e os seriados Tarzan e Jane.
Em 1936, Jacob faleceu e a viúva Emilia com a família continuou com o cinema, dirigindo até 1966.  Ainda em vida recebeu o título de primeira empresária carazinhense e cidadã honorária. Ela foi substituída pelo filho Raul que por sua vez foi passada a administração para o filho Marco Aurélio Simon até seu falecimento.
A história do cinema no Planalto Médio se confunde com a história da família de Jacob Simon. Quase 100  anos se passaram e ainda hoje os carazinhenses lembram deste importante meio de lazer que durante décadas proporcionou bons filmes para o povo. Parabéns.



Um comentário:

  1. Oi Camilo. Tudo bem?

    Muito obrigado por compartilhar a história da sua família. Estive no Cine Gaúcho, em Palmeira das Missões, em 2015 quando estava realizando as filmagens para um documentário sobre a história da Família Levy, de Três Passos, e conheço o Cine Brasília através do filme homônimo feito pelo Boca Migotto em 2014.

    Essas histórias precisam ser contadas.

    Forte abraço,
    Christian Jafas
    https://www.facebook.com/cinegloboofilme

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